Agências devem crescer, mas pouco

O ano de 2003 não foi de todo ruim para o segmento das agências de comunicação. Com raras e honrosas exceções, o crescimento será pequeno, menor do que dois dígitos, se a enquete informal realizada por este Jornalistas&Cia for confirmada por estatísticas mais confiáveis. Está mais do que certo que o espetáculo do crescimento, experimentado pelo setor nos últimos cinco ou seis anos, não se repetiu, mas não há também um movimento no sentido da retração, como ocorreu com vários setores, particularmente com a mídia.  

 

A maior agência de comunicação do País, a CDN – Companhia de Notícias, por exemplo, estima, conforme informou seu presidente João Rodarte, um crescimento da ordem de quase 7%, e aposta num crescimento de 10% para 2004. Segundo ele, também a lucratividade caiu, porque a agência, mesmo tendo duras negociações de contratos, não abriu mão de seus investimentos, pois sabe que são eles é que garantem uma situação diferenciada e favorável no mercado. Entre sacrificar o lucro e o know-how e os talentos, a agência optou pelo primeiro, pois sabe que num processo de retomada estará pronta para dar novo salto e para garantir a liderança. A CDN tem escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, além de representações em várias outras capitais brasileiras. 

 

Um dos desempenhos mais excepcionais do segmento, em 2003, está sendo registrado pela paulista Andreoli/Manning/Selvage & Lee, agência dirigida por Paulo Andreoli e que tem como vice-presidentes associados os experientes Nemércio Nogueira e Valdeci Verdelho. A empresa está fechando 2003 com 20% de crescimento na receita e mais de 25% de lucro líquido, numa carteira de clientes que inclui World Economic Forum, Parmalat, Ericsson, Itaú, Hospital Albert Einstein, Reckitt Benckiser, entre outros. Esse bom desempenho coincide com o aniversário de dez anos da agência, dando um sabor especial às comemorações. A celebração teve um toque inusitado: no jantar de confraternização, houve o sorteio, de surpresa, de um automóvel zero km entre os funcionários (excluindo diretoria) com mais de um ano de casa, claro sintoma de um ano dos melhores. 

 

Não foi o único caso de crescimento excepcional. Uma outra agência, também com parceria internacional e sediada em São Paulo, teve um dos melhores anos de sua história. Em off, a diretoria da empresa informou a este Jornalistas&Cia – Cenários que está fechando 2003 com um crescimento de 26% no faturamento e 15% na receita líquida, uma vez que investiu pesado em gente e modernização, sobretudo do parque de equipamentos. Esse bom desempenho só não será mais comemorado por conta dos resultados adversos da última semana, quando particularmente o segmento de Tecnologia da Informação se retraiu, provocando a saída de alguns clientes. Essa agência, portanto, começará 2004 apreensiva – apesar dos bons resultados de 2003 – e teme ter de fazer alguns cortes já em janeiro. 

 

A Via News, agência de porte médio também de São Paulo, ainda não fechou os números do ano, mas estima fechar o ano com um também excepcional crescimento: 20%, terminando o ano com 24 clientes. A novidade, segundo informou o acionista Pedro Cadina "é a conquista de duas novas contas em dezembro: a Aliança Metalúrgica, fabricante de cadeados e fechaduras, e a Dealer, maior revenda da marca Honda em S. Paulo". 

 

Numa conversa com o presidente de uma das agências de porte do País, também com sede em São Paulo, ele confirmou que no seu caso o ano estava terminando zero a zero, ou seja, um desempenho regular, e isso porque teve a oportunidade de realizar muitos jobs (os chamados trabalhos extraordinários) ao longo do ano. No seu caso, especificamente, houve um importante investimento na mudança de sede, que lhe permitirá ter ganhos significativos a médio prazo. 

 

Numa reunião da Abracom, a Associação Brasileira das Agências de Comunicação, realizada no último dia 11 de dezembro, em São Paulo, um dos donos de agência, perguntado sobre o seu desempenho, foi taxativo ao garantir que andou de lado, praticamente sem crescer. 

 

Outra agência de porte, com ramificação internacional, a In Press Porter Novelli, com sede no Rio de Janeiro e escritórios em São Paulo e Brasília, estruturou um novo núcleo de negócios para atender as contas recém-conquistadas pelo seu escritório paulista: Land Rover, Jaguar e o projeto do auditório da TIM no Parque Ibirapuera.  

 

Nem tudo são flores no entanto. A dona de uma agência de porte médio, também de São Paulo, indagada sobre como foi o ano de 2003 foi taxativa: "Quem está no mercado sabe muito bem que 2003 foi um dos piores dos últimos 15 anos. Diz que falar em crescimento no setor "é irreal, incoerente é irresponsável do ponto de vista histórico". E justifica: "a economia brasileira por acaso cresceu? No máximo, como dizem alguns, uns 0,5%, índice ridículo para um país que continua a se reproduzir em taxas razoáveis. Portanto, o Brasil parou, ou melhor andou prá trás. O único setor que cresceu foi agribusiness, caso contrário teríamos um desempenho pior ainda". 

 

Vê-se, portanto, pelos depoimentos acima (em on ou em off) que o ano foi muito desigual entre as próprias agências, mesclando situações de total euforia com a de completa frustração. Também aí está a prova de que, na média, houve esse crescimento, pois nenhuma delas falou em retração, em perda de faturamento em relação a 2002. Todas as agências ouvidas empataram, cresceram pouco ou tiveram um desempenho excepcional. O que quer dizer que o número do ano deve, sim, ser positivo, mas pequeno. 

 

Outra prova de que não foi um ano ruim é que não houve notícias de demissões em massa no setor (ao contrário, o setor continuou empregando mais), e tampouco de agências que tivessem fechado as portas. Mesmo a que tiveram mais dificuldades acabaram administrando relativamente bem a crise. 

 

Outro indicador de que nem tudo foi tão ruim para esse segmento, em 2003, é o próprio crescimento da Abracom, que, mesmo não tendo ainda completado dois anos de vida, saltou de 56 para 102 associadas, desempenho dos mais louváveis, considerando que houve algumas baixas no meio do caminho. 

 

O setor está hoje muito melhor organizado e preparando-se para esses novos desafios. 

 

Como há uma aposta num 2004 melhor, salvo imprevistos ou mudança nos ventos o próximo ano pode retomar os bons índices de crescimento dos anos anteriores. Oxalá!
FONTE: Jornalistas & Cia

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