O PT e o desafio da comunicação

O PT terá de enfrentar o desafio no qual os governos costumam naufragar: a comunicação com a sociedade. É uma tarefa complexa, dificílima, cuja essência é pouco compreendida, pois não está nela mesma. A comunicação é uma ferramenta, a serviço de uma ação, de uma mensagem, de um objetivo. E é na concepção da ação, da mensagem, do objetivo que uma boa comunicação começa a nascer. 

 

Governos precisam comunicar sua ação política, capitalizar as boas coisas e explicar as coisas ruins que têm que fazer. Para que a comunicação potencialize essas ações e explicações, além de se aplicar corretamente suas técnicas, é preciso compreender a natureza da ação política, seus objetivos, os públicos que serão afetados (positiva ou negativamente), estar preparado para responder e administrar as reações, superá-las, buscar alternativas.  

 

O PT pretende fazer um governo de mudanças, em um governo em aliança, mudanças estas que devem ser aprovadas por um Congresso multifacetado, amplo e, em sua maioria, conservador.  

 

Ou seja, serão necessárias muita firmeza e negociação. Será preciso jogar com a sociedade para que ela influencie o Congresso. De permeio nesse jogo estará a mídia: jornais, revistas, rádios, Tvs, Internet. Um universo enorme, também multifacetado, que goza de ampla liberdade de opiniões, que faz a cabeça da empregada doméstica ao banqueiro ? e que é, basicamente, conservador, crítico, contundente. Será um jogo de xadrez pesado e sofisticado. 

 

Em meados da década de 80, fui diretor superintendente da Empresa Brasileira de Notícias, hoje parte da Radiobrás, e lá aprendi que a estrutura de comunicação do governo, que nada mudou, é frágil e dispersiva, não tem unidade, costuma trabalhar sem uma política definida, sem objetivos claros. Seus braços são a Secretaria de Comunicação, que fica a maior parte do tempo garimpando verbas junto às estatais para fazer campanhas de publicidade. 

 

O Palácio do Planalto tem uma equipe própria de comunicação, basicamente voltada para a imprensa, para o dia a dia, e tenta comandar as estruturas semelhantes que há nos ministérios. Só que estas, ao invés de responderem ao comando planaltino, servem aos seus ministros, nem todos do partido do presidente.  

 

Em resumo, a história mostra que cada um atira para o seu lado, sem unidade de objetivos. Resultado? Dispersão, contradições e a mídia navegando, com todo o seu poder crítico, nesse mar revolto. E atirando. 

 

No meu entender, a batalha da comunicação governamental é ganha ou perdida no dia a dia, nas páginas dos jornais, nos noticiários do rádio e da TV e, agora, com esse mercado financeiro nervoso e globalizante, nos sites da Internet. 

 

A publicidade tem um papel secundário, de apoio. As estruturas da Radiobras e TVs Educativas também têm papéis secundários, por motivos óbvios, que todos conhecem. Ações de relações públicas serão sempre setoriais, dirigidas, com efeitos pontuais, mas pouco universais, ou seja, sem potencial para alcançar toda a opinião pública.  

 

O desafio, portanto, estará em encarar a comunicação como uma das reais dimensões políticas do governo e operá-la no dia a dia, de olho nas manchetes da mídia. O último governo beneficiou-se durante muito tempo do real como elemento concreto de relacionamento com a sociedade: as pessoas o levavam no bolso, o que foi uma vantagem enquanto o encanto durou.  

 

O governo Lula nasce sob promessas de mudanças, que precisam ser honradas. Honrá-las exigirá um enorme esforço político e a comunicação será bem sucedida se conseguir transmitir esse esforço para a sociedade. O que exigirá sintonia fina com o comando político do governo e comando unificado e atuante da estrutura de comunicação. Será possível? O tempo dirá. 

 


FONTE: Revista Imprensa

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