Às vezes sou recompensado com pérolas ? no bom e no mau sentido. Uma mala-direta que recebi de uma empresa de assessoria de imprensa instalada no Alto da Mooca está seguramente na segunda categoria.
Em primeiro lugar, estranhei que me escolhessem como destinatário das mal traçadas linhas (e bota mal traçadas nisso!). Afinal, por que um presumível concorrente quereria que eu tomasse conhecimento de sua limitada visão de assessoria de imprensa? Estaria se oferecendo para colocar as realizações de minha agência na mídia? Ou sua pretensão seria a de tornar-se meu parceiro? Ignoro, pois só veio o texto impresso.
Na primeira página, entretanto, é-me oferecida a possibilidade de ?receber um dossiê (sic)? sobre a assessoria em questão, ?para saber mais sobre os benefícios que ela pode trazer para minha Empresa?. Será que não conhecem o jargão do nosso setor (perfil, portfólio, press kit)? Dossiê é mais apropriado para novelas de espionagem…
Na segunda página, aparece a promessa de ?transformar seu produto em notícia?, como se isso pudesse ser feito em toda e qualquer circunstância. O lançamento de um produto pode ser notícia; eventualmente, um produto já lançado entra no noticiário em função de um novo uso ou de qualquer acontecimento que o coloque em destaque; mas, há seguramente uma infinidade de produtos nas prateleiras que jamais virarão notícia. Se o fabricante desses outros produtos, confiando na promessa da mala-direta, contratar os serviços da assessoria, dificilmente receberá, como retorno, algo mais do que notinhas publicadas por favor em jornais de bairro…
Mais adiante, o tom delirante se acentua, ao pretender explicar como a imprensa trabalha hoje: ?Foi-se o tempo que a equipe de reportagem simplesmente fazia uma reunião de pauta pela manhã e depois saía correndo atrás de matéria, procurando notícias. Atualmente, uma das primeiras fontes é fornecida pelas assessorias de imprensa bem posicionadas. Uma assessoria de imprensa profissional sabe colocar seu produto na frente da notícia?.
A reunião de pauta dos grandes jornais costuma, na verdade, ser feita no final da manhã ou início da tarde; antes, o chefe de reportagem põe os repórteres na rua para cobrir as pautas matutinas. E ninguém sai correndo à procura de notícias; um jornal como o Estadão tem possíveis notícias suficientes para ocupar três vezes o espaço de cada editoria. O difícil é fazer a seleção, a escolha das mais adequadas para o público leitor.
Que eu saiba, não existe nenhuma assessoria de imprensa, profissional ou não, que coloque qualquer produto na frente da notícia num grande jornal. O que pode ? e, mesmo assim, esporadicamente ? é transformar um produto em notícia de destaque, criando, por exemplo, um evento de grande impacto. Mas isto seria mais uma exceção do que uma regra em nossa profissão.
O certo é que a assessoria do Alto da Mooca usa e abusa de promessas mirabolantes, como a de que sua contratação ?será o início de uma nova etapa na vida de seu negócio?. Omite que o alcance dos trabalhos de assessoria de imprensa, no processo de comunicação atual, é pequeno e que só podemos garantir resultados efetivos a partir de um processo de comunicação integrada, que atinja todos os públicos de uma empresa com programas de relacionamento, projetos culturais, campanhas motivacionais, projetos de responsabilidade social, campanhas de integração e motivação do público interno, eventos, publicações, etc., etc., além da própria assessoria de imprensa.
Percebe-se que nosso mercado está se tornando território de caça para pequenos predadores capazes de comprometer o bom nome e a credibilidade que vimos construindo em décadas de atuação ética e consistente. E os lesados, decerto, serão pequenos e médios empresários que, por desconhecimento do assunto, poderão acreditar nesse canto de sereia, desperdiçando os recursos que investiriam em pequena publicidade (mais apropriada no seu caso). É lamentável.
* Antonio De Salvo é o superintendente da ADS Assessoria de Comunicações Ltda.
FONTE: artigo publicado no Meio & Mensagem