Confira artigo de Marcio Cavalieri no Meio & Mensagem
Em janeiro deste ano, a Apple recebeu uma carta de seis páginas assinada por dois acionistas que, juntos, detêm cerca de US$ 2 bilhões em ações da companhia. Nela, eles afirmam que a empresa precisa se responsabilizar e responder pelo crescente número de crianças viciadas em seus smartphones. Em resposta, a companhia comunicou que já vem desenvolvendo recursos para combater o vício.
Este é apenas um exemplo de como o ativismo digital, que começou na política, passou pelas celebridades e chegou às empresas, está presente em nossa sociedade. Na semana passada, vivemos isso com a greve dos caminhoneiros, que parou o País e, certamente, trará muitos aprendizados nas esferas política, econômica e social.
Quem trabalha com comunicação está diante de um case impressionante em termos de ativismo e engajamento digital. Vimos esse fenômeno acontecer com o Twitter, que teve um papel importante na Primavera Árabe, como uma plataforma poderosa de disseminação de informações em tempo real, e se repetir agora, com o WhatsApp, que se transformou no grande veículo de articulação, informação e mobilização de milhares de caminhoneiros e simpatizantes da greve em todo o País.
Evidentemente, a pulverização desse setor, que possui mais de um milhão de veículos em cem mil empresas e cujo líder de mercado tem 1% do market share, de acordo com informações do jornal O Estado de S.Paulo, dificulta muito uma articulação coordenada, na qual líderes sentam-se à mesa com membros do governo e apresentam suas demandas, negociam, fecham acordos, comunicam suas bases e, em seguida, tudo se normaliza.
Na época do ativismo digital não é assim. As marcas precisam estar atentas e preparadas para lidar com isso. Por exemplo, apesar do pronunciamento do presidente da República, no mesmo dia os movimentos no WhatsApp orientavam a continuidade da greve com mensagens de motivação e estímulo para que a resistência não enfraquecesse. Além disso, a plataforma também trazia mensagens de apoio e pedidos para o envio de suprimentos para os manifestantes. Transponha uma situação como essa para uma marca e veja o tamanho do problema!
Apesar da comunicação oficial, as pessoas querem ver para crer e não têm mais a paciência de esperar muito tempo para isso. A mesma perplexidade deve ter sido sentida pela Apple ao receber um pedido que pode ter soado além dos limites pelos quais uma marca deva ser responsabilizada por seus produtos e serviços.
Para nós, comunicadores, fica um aprendizado de que, cada vez mais, as marcas precisam estar atentas aos sinais dos seus clientes. Para isso, é preciso trabalhar o propósito e a verdade da marca para comprovar que a promessa está sendo entregue. E hoje, mais do que nunca, não subestimar o poder e a sabedoria das multidões, que exigem cada vez mais transparência em tudo.