Por Lucia Faria
Inovação rima com inquietação. É aquela palavra, ou sentimento, que nos causa calafrios em alguns momentos e plenitude em outros. Mas essa segunda opção acontece mais raramente, apenas quando achamos o ponto nada mágico entre o suor e a viabilização de um projeto. No meio do caminho, é preciso estudar muito, rever possibilidades e enxergar oportunidades.
Um dos erros muito frequentes, seja em startups ou em empresas já consolidadas, é se esquecer que inovação também rima com comunicação. Há uma tendência em ficar preso a uma realidade do passado, sem entendimento sobre a evolução e transformação ocorridas no setor nos últimos anos. Em um mundo VUCA (da sigla em inglês para volátil, incerto, complexo e ambíguo), cabe à comunicação empregar suas habilidades técnicas para aproximar a marca dos públicos de interesse a partir do entendimento de todas essas variáveis.
Há inúmeras ferramentas inovadoras disponíveis no mercado da comunicação para o melhor desempenho da função, porém, constituem apenas um meio para viabilizar a conversa e, dessa maneira, devem ser encaradas no processo comunicacional. São como commodities e estão disponíveis para todos.
Para desenvolver uma comunicação inovadora é preciso adotar modelos de gestão disruptivos que, desde a gestação, contem com o envolvimento do profissional de comunicação. Poucas empresas pensam e agem dessa maneira. Em geral, a equipe responsável pela comunicação costuma ser chamada apenas no final do processo, insistentemente percebida como mensageira da informação aos públicos de interesse da organização.
O envolvimento desse especialista no caminho entre o planejamento e a entrega final do produto ou serviço contribuirá muito para o sucesso da empreitada. Com olhar treinado para enxergar o lado de dentro e de fora das organizações, esse profissional desempenhará o papel de facilitador na gestão dos projetos. O que começou como uma simples ideia poderá, até o final do percurso, superar as expectativas e se tornar realmente transformadora.
Nada disso, no entanto, será possível se as lideranças estiverem em outra sintonia, despreparadas para encarar sem medo essa transformação demandada pelo mercado e também pelo time interno, cada vez mais jovem. Todas as pontas do negócio precisam pensar digitalmente desde a concepção do projeto, pois sem isso a inovação não irá acontecer.
Independentemente do tamanho de uma empresa, é uníssono afirmar que empreender é um ato de coragem, principalmente no Brasil. Requer humildade para aprender, paciência para driblar os empecilhos e equilíbrio para se manter nesse jogo de cintura.
A figura que mais se assemelha a um empreendedor é o do equilibrista de pratos dos circos. Em uma das varetas está a concorrência; na outra, a economia; e, no terceiro, a tecnologia, além de tantas outras variáveis que rodopiam sem parar. Na plateia, vivendo essa experiência e esperando uma grande experiência, está o cliente.
O espetáculo perde a graça e a credibilidade se o artista não entender sua responsabilidade naquele palco. Na hora em que os pratos desabam, não adianta o equilibrista pedir ao comunicador para ir ao centro do picadeiro acalmar a audiência, inventar desculpas para o fracasso e, na sequência, criar uma solução inovadora e revolucionária para algo já em descrédito. Ao contrário do que muitos dizem, nem tudo no final dá certo!
* Lucia Faria é diretora da LF & Cia Comunicação Integrada e diretora de Gestão e Capacitação da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom)