Demita! E logo.

Por Pedro Cadina

Demitir nunca foi fácil para mim, mesmo depois de 38 anos à frente de vários empreendimentos. Talvez porque sejam ainda frescas na memória as dificuldades na família humilde cada vez que um parente perdia o emprego. Penso que outro motivo para essa dificuldade seja o tamanho das empresas que liderei, sempre inferiores a cinquenta funcionários, onde o relacionamento pessoal e a proximidade contam muito. A demissão também é difícil porque envolve um recomeçar para ambas as partes, o que significa, no caso do empreendedor, encontrar um substituto, treinar, integrar e motivar, com todos os custos emocionais e financeiros envolvidos.

Mas o fato é que a vida de empreendedor não é um show de TV no qual um ator faz cara de sério e anuncia para as câmeras: você está demitido! Na verdade, nunca encontrei alguém que achasse fácil ou tivesse prazer em demitir. E a grande maioria dos artigos e opiniões que vejo tratam dos processos de recrutamento, seleção e contratação, não sobre dispensa de colaboradores.

Há alguns anos, comecei a pensar nos motivos da demissão, quando deve ser feita, quando é necessária, quando é fundamental. O entendimento dessas razões, aliado à prática, às aulas na FGV-SP e ao livro Winning, do executivo Jack Welch, ajudaram muito.

Abaixo listo seis situações nas quais a demissão é inevitável.

Catástrofe

Há momentos que estão muito acima de nosso controle, fatos inesperados que reorganizam ou desorganizam a economia. E você não tem outra saída a não ser demitir. O 11 de setembro nos EUA e o apagão energético no Brasil em 2001 provocaram mudanças drásticas em muitas empresas.

Para mim, o exemplo mais dramático aconteceu em 16 de março de 1990, quando o então Governo Collor decretou o bloqueio de contas bancárias, confiscando dinheiro de milhões de pessoas físicas e jurídicas. Naquela sexta-feira, eu e meus sócios tínhamos 22 colaboradores e duas empresas. Uma semana depois eram quatro pessoas em nosso escritório, incluindo os sócios.

Roubo e corrupção

Certos fatos e iniciativas são moralmente inaceitáveis. Entre eles eu incluo tráfico de drogas, racismo, pedofilia, estupro e assassinato. Além de roubo e corrupção que são os mais comuns na vida corporativa. Aqui lembro de meu pai, proprietário de lojas no interior de São Paulo, que descobriu uma funcionária que levava alguns trocados todos os dias. Ele mandou a moça embora e explicou a todos os funcionários o motivo da demissão. Seus colaboradores não podem ter dúvidas sobre seus valores.

Errei. E agora?

Na vida empreendedora, uma das coisas que garante longevidade é errar menos. Entretanto, o erro faz parte da natureza da atividade. O problema é que as consequências envolvem outras pessoas e podem levar à demissão.

Alguns anos atrás, eu e meu sócio decidimos promover e mudar um gestor de posição. E contratamos outro executivo para fazer o mesmo trabalho. Foi um desastre e perdemos o principal contrato da empresa. Uma dezena de pessoas perdeu o emprego. Não havia outra saída. Nesse caso, sempre que a situação estiver clara para você, peça desculpas e faça esforços sinceros para recolocar todo mundo.

Baixo desempenho

Às vezes você tem um colaborador com ótimo curriculum, boa experiência, excelente relacionamento com o time, mas que não desempenha. A performance fica abaixo dos demais, ou por que não está motivado, ou por que não se adaptou à função. Então, ele gasta mais tempo no fumódromo, no café, contando piadas ou comentando futebol.

Um de meus funcionários com melhor qualidade técnica costumava dormir no banheiro todos os dias. Não podia continuar na equipe, apesar de ser um “cara legal”, amigo de todos. Se mantiver alguém assim, você está sendo injusto com a equipe.

 Não faz parte do projeto

Alguns colaboradores têm bom desempenho e ótima qualidade técnica, mas estão em um momento diferente do projeto da empresa. Nesses anos todos, foram muitas as guinadas para manter a VIANEWS no mercado. Há dois anos, adotamos uma postura mais holística, participativa e consultiva para abordar o mercado e os clientes. Acontece que (felizmente) nem todos desejam o mesmo, então alguns colaboradores decidiram por não abraçar as mudanças. Quem não faz parte do projeto, não deve continuar.

Cortar a carne para não chegar ao osso

Há um ditado que diz que você precisa cortar a carne para não chegar ao osso. Não poderia ser mais verdadeira para esse tipo de situação. Como empreendedor, você tem um compromisso consigo mesmo, com os seus clientes, com os demais colaboradores e com a sociedade. Sua empresa não pode deixar de existir e de servir a estas pessoas por não ter tido coragem de demitir na hora certa.

Certamente há outras razões pelas quais você precisará demitir. E também há dezenas de razões para não demitir. Mas se você tem um dos motivos acima, demita. E logo. Quanto mais tempo você demorar, maior será o estrago.

 

Pedro Cadina é empresário, jornalista e especialista em comunicação organizacional. Fundador e CEO da VIANEWS Hotwire, atua há 38 anos como empresário no setor de comunicação e marketing. Durante esse período já fundou e dirigiu agências de propaganda, birôs de design, produtora de conteúdo, jornal e agência de notícias. Fez parte do grupo de liderança global (GLT) da Oriella PR Network e atuou como professor e palestrante de empreendedorismo em comunicação. É formado em jornalismo (PUC/SP), especialista em comunicação organizacional pela ECA/USP e cursou administração e empreendedorismo na FGV/SP. É fundador e foi diretor por oito anos da ABRACOM – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e autor do caderno “Como escolher uma agência de comunicação”.

 

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