Há décadas nos EUA, e há alguns anos no Brasil, uma palavra virou mantra entre as empresas: "compliance". O termo tem boa tradução em português: conformidade. Significa que uma companhia deve agir em conformidade, de acordo, não apenas com as leis, mais também com a ética, transparência e integridade.
Após o caso Watergate, os norte-americanos criaram, em 1977, o FCPA (Foreign Corrupt Practices Act).
A lei coíbe não só a corrupção praticada por norte-americanos no relacionamento com governos estrangeiros, mas também a praticada (em qualquer lugar) por companhias estrangeiras listadas em bolsas de lá, que tenham filial naquele país ou que utilizem o dólar como moeda em suas transações.
No Brasil, os avanços são mais recentes, como a Lei Anticorrupção de 2013 e a regulamentação das delações premiadas. As mudanças se revelaram providenciais. Basta ler o noticiário para entender que o "compliance" dita o rumo do país.
E as empresas estão respondendo a essa realidade. Segundo pesquisa CDN/Ideia Big Data, 86% de 94 CEOs e altos executivos brasileiros entrevistados em maio consideram que os esforços de compliance devem ser constantes -e não apenas durante a gestão de crises.
Ao priorizarem o tema, as companhias atendem a uma exigência da sociedade, que não deseja apenas qualidade e preço justo de produtos e serviços. Mais do que zelar para que todos os seus empregados, fornecedores e parceiros estejam fazendo o que é certo, as empresas precisam mostrar que agem "em conformidade".
Essa demanda vital requer esforços múltiplos em comunicação. Além de comunicar às equipes internas quais os princípios éticos a serem respeitados, será preciso treiná-las em práticas como cumprir regras ao se relacionar com as interfaces externas, públicas e privadas.
Mais importante: é essencial a comunicação direta dos executivos e acionistas controladores com os colaboradores, mostrando seu compromisso com esses princípios.
Já a comunicação com a sociedade tem como peça principal o relacionamento com a imprensa. Cresce a cada dia o percentual de cidadãos que se informa por meio de redes sociais e digitais. No entanto, as informações mais usadas nessas redes são aquelas chanceladas pela credibilidade das notícias dos meios de comunicação chamados "tradicionais". Temos então um duplo desafio -e uma dupla oportunidade.
As companhias, mesmo as de capital fechado, precisam ser transparentes, abrir as suas portas, seus fatos e dados para a imprensa, que, por sua vez, para dar conta da demanda da sociedade, deve se aparelhar. Repórteres precisam dominar o tema do compliance. Editores devem priorizá-lo.
O desafio/oportunidade do jornalismo é fiscalizar as empresas e suas práticas de forma tão eficiente quanto faz em relação aos poderes públicos. Repórteres devem manter, com as companhias e seus dirigentes, a mesma postura que adotam em relação a governos e políticos. Mas o jornalismo responsável também noticia e reconhece as boas práticas das empresas.
Se as companhias e a imprensa vencerem esse duplo desafio, o grande beneficiado será o cidadão. Prejuízos ao erário em sua relação com os entes privados poderão ser reduzidos consideravelmente. Muitos escândalos corporativos serão evitados. Em consequência, muitos empregos e riquezas poderão ser preservados.
*João Rodarte, graduado em jornalismo pela USP, é fundador e presidente da CDN Comunicação, agência associada à Abracom
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo