Vitória da Matisse surpreende mercado publicitário

O mercado publicitário recebeu com surpresa o fato de a agência de propaganda Matisse, uma empresa de porte médio de Campinas (SP), ter sido classificada na licitação para escolha das agências que cuidarão da propaganda institucional do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.



Mas não se prevêem contestações à concorrência realizada pela Secom (Secretaria de Comunicação do Governo e Gestão Estratégica).



As três agências escolhidas para dividir a verba de R$ 150 milhões neste ano foram a Duda Mendonça (que obteve 92,33 pontos na proposta técnica), a Lew, Lara (90,67) e a Matisse (88,67).



Sem experiência em campanhas políticas ou atendimento a governos, a Matisse desbancou pesos-pesados, como a Publicis Salles Norton, DM9DDB, Giovanni, FCB e DPZ. "Por que a Matisse não poderia ganhar?



Temos grandes contas. Não somos uma grande agência, do tamanho da Lew, Lara, mas raciocínio e experiência mercadológica não são privilégio das grandes agências", alega Dalva Maria Fazzio de Andrade, 34, diretora-presidente da Matisse.



Publicitários ouvidos pela Folha, sob a condição de não terem seus nomes revelados, entendem que a escolha das propostas técnicas -quando há boa dose de subjetividade nas avaliações das peças de criação- respeitou as formalidades, sem abrir brechas para contestações legais. Mas apostam que houve forte influência política na escolha.



O silêncio deve-se ao pragmatismo: questionar a seleção agora pode dificultar a disputa de contas de estatais, como a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os Correios.



A ascensão da Matisse é atribuída à recente parceria com o publicitário Paulo de Tarso Santos, que fez as campanhas de Lula em 1989 e 1994. Santos tem longa experiência em marketing político e já fez campanhas eleitorais tanto para petistas quanto para tucanos.



A Master Publicidade, do Paraná, colocada em quarto lugar, foi superada pela Matisse por apenas 0,67 pontos. A Master tem experiência em campanhas de governo (Ministério da Saúde, Caixa Seguros, governo do Paraná, Prefeitura de Curitiba, entre outros).



Por meio de sua assessoria, o presidente da Master, Antônio Freitas, disse que não iria se pronunciar, por se tratar de "matéria já julgada". Luciana Marehb, da Master São Paulo, considerou a licitação "totalmente transparente" e disse que não irá recorrer.



A Matisse foi fundada em 1991, tendo como sócios a SCL Participações (70%) -do empresário Sérgio Cerqueira Leite-, Jorge Tadeu Brettas de Godoy (15%) e Dalva Maria Fazzio de Andrade (15%). Em maio último, houve alteração social, com a retirada de Godoy da sociedade.



Procurado pela Folha, o publicitário Paulo de Tarso Santos não se manifestou. A assessoria da Matisse disse que ele está viajando. A Folha não localizou o publicitário Cláudio Baeta, citado na entrevista com Luiz Lara, diretor da Lew, Lara.



Formalmente, a Matisse estava capacitada a disputar a conta da Secom, por estar registrada no Cenp (Conselho Executivo das Normas Padrão), órgão auto-regulador do mercado publicitário.




FONTE: Folha de S.Paulo

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