Fome Zero inspira programas na Rússia, Argentina e Timor Leste

O Fome Zero está se tornado produto de exportação. A Rússia está implementando um modelo inspirado no brasileiro e o Timor Leste e a Argentina já fizeram consultas ao Brasil sobre o programa, afirmou ontem o ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano, durante seminário "O papel da iniciativa privada no combate à fome", promovido pelo Valor.



O ministro não quis comentar se o interesse argentino no programa de segurança alimentar foi mostrado no recente encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirshner, candidato favorito nas eleições presidenciais do país vizinho. Limitou-se a dizer que a implantação de um Fome Zero argentino depende do resultado do pleito – o segundo turno ocorre nesse fim de semana. Pelo Timor, quem entrou em contato com o governo brasileiro foi o Nobel da Paz de 1996, José Ramos Horta.



No seminário, Graziano comentou também que Lula fará uma "exaltação" a um Fome Zero mundial durante a reunião da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em outubro. O assessor especial da Presidência da República, Oded Grajew, acrescentou que a mobilização no combate à fome teria chamado tanto a atenção de organismos internacionais que a reunião anual do Global Compact, em dezembro, vai ser realizada no Brasil.



Lançado em 2000, o Global Compact é uma iniciativa do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, de unir lideranças empresariais do mundo em torno de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. A idéia de um Fome Zero mundial foi defendida por Lula, pela primeira vez, durante o Fórum Mundial Econômico, em Davos, na Suíça. Agora, começa a segunda fase, de buscar apoio e intensificar as ações. Antes da FAO, Lula vai participar da reunião do grupo dos oito países mais desenvolvidos do mundo (G8), na França em junho. Além de defender o Mercosul, o presidente deve aproveitar para reforçar o Fome Zero mundial, acredita.



Lula estuda propor a criação de um Fundo Mundial de Combate à Fome constituído por 50% do serviço da dívida externa (juros e encargos financeiros) dos países pobres, e pelo recolhimento de 1% de todas as despesas mundiais com armamentos. A idéia do fundo mundial será apresentada por Lula na próxima reunião do Grupo dos oito países mais desenvolvidos do mundo (G-8), em Evian (França), entre os dias 1º e 3 de junho. Ontem o presidente antecipou a proposta do governo aos integrantes do Conselho Mundial de Igrejas.



O Palácio do Planalto confirmou que as propostas de financiamento do fundo mundial estão em estudo pelo governo, mas que há outras fórmulas ainda em análise. Brasil, China e alguns países africanos foram convidados para participar do encontro do G-8 como observadores.



" No lugar de pagar 50% do serviço da dívida para os países financiadores, a parcela seria transformada em títulos. E os títulos, por sua vez, seriam recomprados pelos países credores. O presidente nos disse que quer propor isso " , afirmou o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, pastor Konrad Raiser.



Em São Paulo, Graziano disse que as iniciativas do governo nos municípios do semi-árido nordestino já começam a mostrar resultado. O governo federal vai formar, a partir desse mês, estoque de alimentos (feijão e milho) para distribuir na região em setembro e outubro, época de seca. A simples divulgação da formação de estoque, comentou, fez a cidade de Guariba, no Piauí – onde o programa Fome Zero foi lançado – ter produção recorde de feijão. "Os especuladores começaram a agir em Guariba e o preço da saca do feijão foi rebaixado de R$ 60 para R$ 30. Com o anúncio da compra da produção pelo governo, a saca voltou a R$ 60".



Segundo o ministro, pelas previsões meteorológicas, a seca desse ano será comparável à de dois anos, muito rigorosa. "Queremos evitar a situação de calamidade pública na região, que normalmente se vê envolvida com saques, distribuição de cestas básicas e carros pipas nesse período".



Graziano observou também que o governo comprará feijão e milho para formar um estoque mínimo estratégico e não regulador. Ainda no pacote de medidas de emergência, está o seguro-safra. "Se houver estiagem, a família do produtor estará salva". Para facilitar a agricultura familiar e criação de animais no semi-árido, o governo também tem investido na construção de cisternas. Este ano, 10 mil cisternas, a um custo de R$ 16 milhões, serão entregues, a partir de uma parceria com a Associação do Semi-Árido (ASA) e com o financiamento da Febraban e do governo. A meta é construir 1 milhão de cisternas em quatro anos.



Embora faça uma análise positiva do Fome Zero, Graziano reconhece alguns problemas da fase inicial. Primeiro: a velocidade do programa. "Coordenar entidades diferentes, como governos dos estados, prefeituras e entidades de sociedade civil nem sempre permite imprimir a velocidade que desejamos por envolver problema de logística e coordenação. Mas não há outro jeito".
FONTE: Valor Econômico

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