O nicho das publicações customizadas

As publicações feitas sob medida para empresas, e que são também conhecidas como customizadas (do tal custom publishing) são hoje um dos mais promissores e rentáveis nichos de mercado existentes.    

   

É tão atraente que até a maior editora de revistas do País, a Abril, entrou nesse mercado, através de sua Unidade de Negócios Guias – aquele que produz os vários Guias 4 Rodas e outros.    

   

O primeiro produto, que acaba de sair do forno, sob encomenda do Grupo Telefônica, é o Guia 15, um projeto de alta sofisticação que será distribuído como brinde diferenciado para um seletíssimo grupo de executivos top e clientes das empresas do conglomerado espanhol.    

   

Ele foi pensado para esse público específico: ao todo são 90 dicas, entre elas as 15 grandes adegas, os 15 destinos mais atraentes para casais e os 15 grandes programas para famílias (com roteiros no Brasil e no Exterior). Idéia fantástica costurada pelo Diretor Editorial do núcleo Guias, Caco de Paula, e pela Superintendente de Comunicação da Telefônica Empresas, Regina Bernardi, executada pelos colegas Armando Coelho Borges e Gabriela Erbetta.   

   

Diz Caco: "É um caminho que pode vir a resultar em muitos projetos no futuro".    

   

Crise? Sim, crise, mas talvez por isso mesmo um grande momento para oportunidades, um estratégico momento para investir em idéias novas, um momento talvez único para entrar no mercado, consolidar-se, crescer e demarcar espaço.    

   

Momento, portanto, é o mote que fez nascer uma nova iniciativa de três colegas jornalistas que estão investindo dinheiro, suor e talento num novo negócio editorial, numa editora. Qual o nome? Editora Momento!    

   

Juntos, José Fucs, Alcides Ferreira e Píndaro Camarinho Sobrinho fundaram há pouco mais de dois meses a Editora com o principal objetivo de transformá-la numa incubadora de projetos editoriais, com um perfil, portanto, muito diferente das editoras tradicionais que tem seus próprios títulos e que, diante de uma crise como a que enfrentamos – quase sem precedentes – amargam um dos mais difíceis momentos da história.    

   

O executivo principal do empreendimento será José Fucs, colega com vasta experiência na imprensa, que dirigiu até recentemente a revista Meu Dinheiro (Abril), integrou o time de editores da Exame e presidiu o portal financeiro Dinheiro.net.    

   

Seus dois sócios são também tarimbados e donos de invejável currículo. Alcides esteve vários anos na Folha, tendo sido correspondente em Washington do jornal, foi da Agência Estado (onde participou de forma destacada dos produtos new mídia/broadcast da empresa) e dirigiu a área de conteúdo do Deutsch Bank, até ser chamado por Mailson da Nóbrega e demais sócios para ocupar a mesma função na Tendências Consultoria – uma das mais respeitadas do Brasil -, na qual continua a trabalhar.    

   

Píndaro foi diretor de Arte de duas das mais importantes revistas brasileiras, Veja e Exame, e optou por criar sua própria agência, a Camarinha Comunicação e Design.    

   

O primeiro negócio foi fechado com a Rede CBS (Comunicação Brasil Sat) de Rádio, que controla a Kiss FM (102,9 MHz, em São Paulo), especializada em rock clássico. Será a Revista Kiss, voltada para o público masculino, com reportagens, variedades, estilo de vida, comportamento etc. Terá 76 páginas, periodicidade trimestral e uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, com distribuição pela Fernando Chinaglia. Cada edição sairá com um brinde, como o CD com 14 clássicos de rock, da edição de estréia.    

   

Fundada com o apoio de investidores individuais, como se vê, a Momento é um empreendimento ambicioso. Além de atuar na área de custom publishing, vai também desenvolver publicações do tipo one shot, com temas de oportunidades. E quer outros sócios investidores, brasileiros ou não, para ampliar o fôlego de ação e os projetos a serem incubados. Fucs considera o momento (sic) estratégico pois, segundo ele "estamos entrando numa nova Era no setor de mídia no Brasil".   

   

Vários projetos já estão em gestação para 2003, mas os sócios avisam: "estamos abertos para avaliar projetos editoriais de terceiros e se forem viáveis investiremos."    

   

Em outros países, particularmente EUA e também nações européias, as publicações customizadas são um tremendo sucesso há anos.   

   

No Brasil, uma das primeiras tentativas comerciais nesta direção ocorreu quatro ou cinco anos atrás, quando a Editora Globo fechou contrato com a Fiat Automóveis para editar a revista Zero Km, que circulou por quase dois anos, fechando por divergências entre as empresas.    

   

Temos, é claro, publicações como a Ícaro, com anos de mercado e que são pioneiras no segmento. Mas sempre foram empreendimentos pontuais e restritos a determinados setores, a aviação entre eles. Nada que possa se comparar ao movimento que estamos começando a observar.    

   

Como isso tudo é ainda muito recente, dentro de algum tempo vamos ter certamente um crescimento exponencial, fruto do desejo de um número maior de marcas de querer viabilizar uma publicação customizada.    

   

Acontece que o mercado tem um tamanho e a hora que saturar vai sobrar prejuízos para os que fizerem a aposta errada. Nem todas as marcas, afinal, tem charme e importância para gerar empreendimentos dessa natureza.    

   

Acontece que já há empresa especializada e forte nesse segmento, dando um banho de competência. Uma delas é a Editora Trip, dirigida por Paulo Lima, e dona de títulos como a própria Trip e TPM.    

   

A empresa tem em seu portfolio cinco títulos customizados, todos de alta sofisticação e grandes alavancadoras de imagem e de negócios para as respectivas marcas. Quem dirige esta área por lá é Fernando Paiva, colega que passou por alguns dos mais cobiçados cargos no segmento de revistas, em publicações como Playboy e Quatro Rodas, e que, na Trip, se reporta ao Diretor Editorial Fernando Luna.    

   

O núcleo fixo é minúsculo, pois são publicações que se valem predominantemente de colaborações. E que colaborações! É um mercado que paga bem, em dia, e oferece a oportunidade de realização de trabalhos prazerosos.    

   

Não é à-toa que grandes nomes do jornalismo brasileiro (foto e texto) trabalham regularmente para várias dessas publicações, permitindo aos leitores ter acesso a projetos jornalísticos da mais alta qualidade – e que já não são realidade nas publicações tradicionais.    

   

No caso da Trip, que já editava as revistas Daslu, Mitsubishi e Gol, a sua divisão de custom publishing lançou recentemente dois novos títulos, as revistas Expand (30 mil exemplares, semestral, 100 páginas) e Homem Daslu (35 mil exemplares, trimestral, 92 páginas, que se separou da revista-mãe, a Daslu).    

   

Entre os colaboradores da Expand, cujo objetivo é a difusão da cultura do vinho, estão Luis Fernando Verissimo, João Ubaldo Ribeiro, Armando Coelho Borges, Thales Guaracy, Gilberto Gil e Tony Belloto, entre outros. Na fotografia, Márcio Scavone, Rômulo Fialdini, Claudio Edinger e João Ávila.    

   

A Homem Daslu é uma revista de serviço, a serviço da elegância e com centenas de dicas práticas para o leitor. Traz belas mulheres, todas vestidas. Os colaboradores de texto são Cesar Giobbi, J.R. Duran e Larissa Mussolino, entre outros, com apoio dos fotógrafos Márcio Scavone, Bob Wolfenson e Dede Fedrizzi.    

   

Dois anos e meio atrás, Morris Kachani associou-se a um colega da área comercial, Ricardo Feldman, e montou uma empresa voltada para esse segmento. Logo depois entrou na empreitada Laura Capriglione, que vinha de experiências na linha de frente da imprensa diária, como Morris, mas que ficou pouco tempo com eles.    

   

Laura decidiu voltar para o dia-a-dia da grande imprensa (primeiro na Abril, participando do desenvolvimento e lançamento da revista Tudo; e atualmente na Editora Globo, dirigindo a Divisão de Publicações Femininas da empresa).   

   

A Editora Livre (nome da empresa), no entanto, prosseguiu firme em sua trajetória e acabou se consolidando, tendo hoje, em seu portfolio três títulos permanentes, as revistas Estilo Peugeot (tiragem de 80 mil exemplares e periodicidade trimestral), Diálogo Médico (bancada pela Hoesch – 80 mil e bimestral) e Moda Mix C&A (trimestral, 200 mil).   

   

A empresa tem doze colaboradores permanentes e faz também projetos editoriais especiais, como um livro de final de ano para a Siemens e o calendário de Fernanda Carvalho. Morris, otimista, diz que a empresa já atingiu um estágio que ele considera bom, sem necessidade de grandes arroubos pela frente.    

   

Recentemente quem também montou uma editora com essas características foi Mariela Lazaretti, ex-diretora de Redação da Contigo, que fundou a Quatro Capas e que acaba de lançar a revista Stilo Fiat, já com contrato para lançar outras duas revistas.    

   

Algumas das publicações são abertas à publicidade e o custo de inserção é altíssimo, exatamente por atingir um público seletivo, de alto poder aquisitivo, oferecendo uma receita editorial que combina o lúdico com a imaginação e que pega o público muito mais pela emoção, pela plasticidade, pelo status, pelo estilo e qualidade de vida, do que por qualquer outra razão.    

   

E o que é interessante. É um mercado que está apenas se abrindo no Brasil e as empresas que já atuam no segmento sequer conseguiram ainda arranhar a casca dessa laranja. Há muito por fazer e muito a crescer. E quem tiver ambição, iniciativa e disposição (e, obviamente, algum dinheiro ou algum parceiro investidor) deve analisar com carinho esse emergente mercado.   

   


FONTE: Publicado originalmente no Comunique-se

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