O maior contrato de relações públicas de que se tem notícia foi assinado na última semana pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos com a agência de comunicação Burson-Marsteller e tem como objetivo a campanha de comunicação sobre a nova aparência que as notas do dólar terão a partir do ano que vem. Pela primeira vez em sua história, o dinheiro norte-americano, que é na verdade moeda corrente de uso mundial, terá cores, além de outras características que tornarão as novas cédulas mais difíceis de falsificar.
A apresentação das mudanças vai demandar um dos maiores e mais sofisticados esforços de comunicação já realizados, para que que a forte confiança de que o dólar desfruta seja mantida. Na linguagem de RP, o dólar é a marca mais reconhecida, mais aceita e de maior confiança do mundo. Para apoiá-la, o governo dos EUA realizou a maior e mais concorrida licitação de relações públicas do ano, vencida pela Burson-Marsteller pela bagatela de US$ 55 milhões.
Caberá à agência planejar e gerenciar a campanha que incluirá ações de mídia, mala direta, administração de crise, elaboração de sites para a Internet, publicidade e produção de folhetos e outros tipos de material informativo.
Não será a primeira vez que a Burson-Marsteller trabalhará para o dólar e para o Departamento do Tesouro. Há alguns anos, quando algumas séries do dólar foram redesenhadas, com a introdução de retratos maiores e tinta de cor variável, coube também à B-M apresentá-las ao mundo. A campanha conseguiu um índice de 86% de reconhecimento público, praticamente sem publicidade, e contribuiu para reforçar a confiança de detentores de dólares na Rússia, Europa Oriental e América Latina.
Importante registrar que o comando de uma mega-operação como essa, no maior mercado do mundo, é conduzido por uma agência de relações públicas e não de publicidade, como ocorreria aqui no Brasil. O conjunto de ações inclui publicidade, mas dentro de uma estratégia institucional ponderada e planejada para atingir todos os objetivos de divulgação e imagem, junto aos diferentes públicos de interesse.
No Brasil isso é ainda uma utopia, mas já há avanços consideráveis nessa direção. Nesta quarta-feira, por exemplo, começou em São Paulo o 2º Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público, evento que terá entre os palestrantes alguns dos mais renomados profissionais da comunicação institucional privada, apontando caminhos de construção de imagem na área pública com o apoio do know how do setor privado, como já ocorre em outras partes do mundo.
O surgimento da Abracom, a associação que reúne as agências de comunicação do País, é outra iniciativa que poderá dar sua contribuição nessa direção, pois embora não se sonhe ainda com um contrato da magnitude deste que foi assinado pelo governo norte-americano, tem-se a esperança de que progressivamente as centenas de empresas que hoje atuam nesta área possam começar a oferecer seus préstimos à área pública, qualquer que seja o Poder ou autarquia.
O contrato assinado pelo governo norte-americano com a Burson-Marsteller é quase duas vezes e meia maior que o faturamento anual reunido das dez maiores agências de comunicação do Brasil, que foi, segundo ranking divulgado na última semana pelo jornal Gazeta Mercantil, da ordem de US$ 23 milhões (ou aproximadamente R$ 69 milhões).
Mesmo sendo mercados incomparáveis, dá para se ter uma idéia de quanto o serviço público poderá ser importante no crescimento dessa atividade, caso distribua de forma mais equilibrada, planejada e profissional suas verbas. O Brasil tem hoje um grupo de empresas no segmento de comunicação e relações públicas que nada fica a dever as suas primas internacionais e que estão aptas a desenvolver projetos e planos para a área pública. A questão agora é realmente de organização e trabalho, para conquistar posições nesse expressivo mercado.
Mesmo tendo praticamente triplicado o faturamento em cinco anos, as agências de comunicação, como diz um empresário da área, sequer arranharam a casca dessa laranja (mercado da comunicação, como um todo, incluindo as áreas públicas e privadas). Há muito o que trabalhar e muito a crescer.
A tomar o exemplo americano, dá para se imaginar o que poderá acontecer com esse mercado, no Brasil, quando a área pública finalmente "descobrir" os serviços de relações públicas e comunicação corporativa.
FONTE: Comuniquese