O que é mesmo que você faz?

Na assembléia de fundação da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação, a diretoria recém-eleita fez os discursos de praxe e tudo corria conforme o programado. Até Ivandel Godinho, da In Press Porter Novelli, iniciar sua fala como um dos vice-presidentes da entidade comentando: "Estou cansado de chegar diante de um cliente e responder à pergunta: ?O que é mesmo que você faz?? A minha mãe, até hoje, não entende direito o que eu faço."



Mesmo ponderando que a maioria das mães ainda prefere ver seus filhos médicos, engenheiros ou advogados; que algumas delas podem até se satisfazer em tê-los jornalistas, mas dificilmente manteriam a opinião se fossem relações públicas, é fácil deduzir que o difícil começa em casa. E se prolonga, para aqueles que trabalham na Comunicação Institucional, em intermináveis seções de catequese nas reuniões de prospecção ou no cotidiano do atendimento.



A Abracom foi fundada em São Paulo, no dia 17 de abril deste ano, composta por cerca de 50 empresas. Na sua diretoria estavam representadas oito ? CDN, Estratégia, FSB, In Press, Informare, LVBA, Máquina da Notícia, S2 ? das 20 maiores do setor, apontadas pelo Balanço Anual da Gazeta Mercantil. Essas oito empresas, sozinhas, respondem por mais de 60% da receita obtida com serviços de assessoria de imprensa e relações públicas no Brasil, uma cifra em torno de R$ 40 bilhões por ano.



Entre os objetivos da Abracom estão o de difundir a atividade, contribuir para a organização e a profissionalização do setor, e zelar pela qualidade e padrões éticos na prestação dos serviços. O primeiro dos mencionados já é um indício dos encargos que terá pela frente. Por difundir a atividade pode-se entender que qualquer entidade de classe tem interesse em ampliar o mercado para os seus filiados. Mas quantas associações estariam dispostas a ter como um dos objetivos divulgar para o grande público o simples fato de que determinada profissão existe e conta com empresas saudáveis, de bom porte, exercendo suas funções?



Quem atua na área precisa, a cada novo encontro, responder a uma pergunta que ninguém dirige a médicos, engenheiros, advogados. Qualquer fonte, da mais alta autoridade ao personagem de rua, sabe perfeitamente o que faz um jornalista das redações, mesmo que varie seu juízo sobre esse tipo de trabalho. Quantos clientes, efetivos ou em perspectiva, da Comunicação Institucional dispõem de uma noção clara do que fazem esses profissionais, em bom número também eles jornalistas?



Os clientes confiam em pessoas, e com elas fecham contratos; têm idéia dos resultados a se obter, estão dispostos a pagar por isso e ponto. Pouquíssimos são capazes de avaliar a capacitação do serviço para além do critério do menor preço. Em tempos de ampla divulgação científica, quando um paciente com instrução mediana se sente à vontade para discutir com o médico a terapia indicada, o trabalho de Comunicação Institucional é visto como uma pajelança da qual se cobra eficácia, mas onde as partes pouco discutem a conveniência de cada alternativa, ou para que deuses se deve fazer fumaça. Não por acaso uma agência paulista se chama Dança da Chuva.



Se para os empresários que deram certo existe o obstáculo concreto do desconhecimento generalizado, o que dizer da multidão que compõe nosso universo de cerca de mil empresas de Comunicação Institucional. Grosso modo, sabe-se que 500 delas estão em São Paulo, 200 no Rio, o restante espalhado pelo país, a têm qualificação oscilante. Excluindo-se aquelas, existentes em qualquer ramo de atuação, de idoneidade questionável, vamos considerar que boa parte não foi constituída com base no espírito empreendedor, mas por profissionais muitas vezes empurrados para a pessoa jurídica pelo estreitamento da oferta de emprego formal.



O leque se compõe do principiante que, depois do estágio, não encontra colocação; passa pelo jornalista excluído da redação reestruturada; o ex-funcionário de grandes corporações submetidas a reengenharia para terceirizar o departamento; e vai até o veterano que tem bons contatos e não quer ficar parado. Qualificados para o desempenho das funções, mas sem contar com o talento vendedor do verdadeiro empresário, vêem poucas chances de expandir seu campo de atuação.



Certamente, as maiores e melhores vão difundir seus próprios interesses. Depois de canonizada Madre Paulina, não há santos brasileiros pretendendo os altares. Mas é inegável que um desses interesses, o esclarecimento, vai levar, no vácuo, empresas médias e pequenas para um mercado, digamos assim, mais espaçoso.






FONTE: Comuniquese

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