Compliance Officers: vamos, de verdade, ENGAJAR para o compliance?

Por Gisele Lorenzetti

Você já se considerou uma executiva ou executivo fazendo uso de ferramentas do Século XX no já adiantado Século XXI?

Caros profissionais que atuam na área de compliance, permitam-se algumas provocações:

1.      Você certamente assina serviços de streaming para assistir seus filmes e séries favoritos. Ou seja, para você a mídia tradicional não se mostra suficiente para atender suas necessidades. Você assiste um filme onde e quando quiser e não mais quando o canal programar.

2.      Você certamente está presente nas mídias sociais. Tudo bem que tem suas críticas com relação a algumas delas mas, mesmo com algumas irritações, continua lá. Sabe por quê? Porque elas permitem aproximar você de pessoas que há muito não via. Permitem que você esteja em grupos que reúnem colegas de sua classe do ensino médio ou da faculdade. Ou seja, você aderiu a isso porque acredita que a melhor comunicação é entre pessoas, entre CPFs e não entre CNPJs.

3.      Você não suporta mais a caixa de entrada de seu e-mail corporativo. As mensagens institucionais acabam sendo não lidas ou, quando lidas, você já não absorve essas informações pois são tantas e com relevância tão questionável…

4.      Você é engajado em causas? Levanta alguma bandeira? Por exemplo, a defesa do meio ambiente, pelo fim da violência, pelo direito da sociedade se armar, pela liberdade de expressão, pelo veganismo e daí em diante. Por que você se engajou em alguma ou algumas causas? Porque elas fazem sentido para você. Porque estão alinhadas aos seus valores, porque falam a sua razão e mobilizam suas emoções.

5.      Quantas vezes, durante a sua vida, você não se viu obrigado a mudar de comportamento. Começou a usar o cinto de segurança, não bebe e dirige, está mais atento aos limites de velocidade ou não fuma mais em ambientes fechados? E por que você mudou? Porque foi obrigado a refletir sobre cada um desses hábitos. Leis e multas ajudaram. Mas a mudança só aconteceu porque você entendeu a importância dessas novas obrigações. Dificilmente você vai burlar que está usando o cinto de segurança. Você hoje tem consciência dos riscos que está sujeito adotando este comportamento infantil.

6.      E, por último, quando você passa por um treinamento você se sente engajado pelo tema? Certamente não. Você pode se sentir mais informado. Às vezes até um pouco entediado. Mas não disposto a fazer daquela temática sua bandeira de vida.

Consegui ajuda-lo a concluir que você tem sido contraditório quando pensa em engajar suas equipes para os programas de compliance?

Você é um executivo do século XXI que tende a usar técnicas do século XX neste quesito e esquece que as pessoas que você deve impactar estão vivendo, alguns até mesmo nasceram, no século XXI.

Primeiro, vamos esclarecer: treinamentos são obrigações legais. Você tem que faze-los e comprovar que foram feitos. No entanto, você já concluiu: eles não são efetivos. Eles não transformarão as equipes em defensores do compliance.

Como engajar? Provocando. Simples assim. Gerando conversas, trocas entre humanos e não entre máquinas, como acontecem nos treinamentos. Criando espaços para reflexão e questionamento.

Já pensou em mapear toda a empresa para diagnosticar quais são os verdadeiros líderes de opinião, aqueles que todos buscam quando tem uma dúvida ou querem simplesmente formar uma opinião? Esses líderes não necessariamente são os líderes formais. Quem são eles? Por que não transformá-los no time de difusores de boas práticas? Sem dúvida eles têm muito mais condições de engajar do que campanhas e e-mails marketing. É a comunicação de gente pra gente.

Quer conversar mais sobre como promover o engajamento para o compliance com técnicas do século XXI, estou super às ordens. Só, por favor, não insista mais nos velhos hábitos. Você pode ser considerado o “Tio da Sukita” do século XXI.

(Pensando bem, se você entendeu a frase anterior, é melhor ficar mesmo atento. Certamente os nascidos nos anos 2000 não fazem a menor ideia do que se trata. Vamos conversar?)

 

Gisele Lorenzetti – Diretora da LVBA Comunicação e Presidente do Conselho de Ética da Abracom

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