Evento destaca importância da apuração promovida pelos veículos profissionais no combate às falsas notícias.
“As pessoas consomem aquilo que vai ao encontro da sua visão de mundo”. A frase dita pelo filósofo Luiz Felipe Pondé, durante o fórum denominado “O papel da Mídia Brasileira na Era da Pós-Verdade”, promovido pela Associação Nacional de Editores de Revista (ANER), com apoio da Abracom, em São Paulo, ilustra parte das reflexões e adaptações sobre as quais se debruçam, atualmente, os veículos de comunicação.
Com o objetivo de destacar a importância do momento para o fortalecimento da democracia e a oportunidade de garantir à sociedade o direito de informações críveis, apuradas com técnica, rigor e ética profissional, a iniciativa, voltado a profissionais de comunicação, apresentou a necessidade premente de se resistir à propagação de notícias falsas e alternativas que circulam nas redes sociais e têm impacto nas decisões em âmbitos político, econômico e social.
Irene Ruberti, coordenadora de projetos da Abracom, também marcou presença no evento. “Mentiras e verdades não podem ter o mesmo valor. E a pós-verdade pode ser sinônimo de mentira, na medida em que fatos objetivos parecem ter menor influência sobre crenças populares”, frisou o presidente da ANER, Fábio Gallo, durante a abertura do encontro, destacando a velocidade com que as “fake news” são compartilhadas. Ele ainda lembrou casos como o ocorrido em 2014, quando uma mulher foi espancada até a morte por populares no Guarujá, litoral de São Paulo, acusada de praticar magia negra, e o boato — inverídico — espalhou-se nas redes sociais.
Para o jornalista, colunista da rádio USP e professor universitário, Carlos Eduardo Lins da Silva, a definição de verdade já se mostra algo bastante complicado. “Fico com o conceito de pós-fato. É preciso separar o fato do não-fato”, destacou. Ele frisou que o momento atual é bastante delicado, pois lideranças hierárquicas mundiais estão usando do artificio de divulgar falsas notícias para fins escusos. Como exemplo, citou a eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos e disse que ele “ganhou com base no Twitter e nas mentiras. “Há uma indústria da pós-verdade, com remuneração por resultados”, disse.
Lins abordou ainda, que existe um descrédito geral na sociedade para com as instituições, incluindo a imprensa, o que contribui para o a disseminação de visões alternativas. Segundo ele, o combate à pratica não passa necessariamente por maior regulação da mídia. “Seria um perigo, na medida que já temos leis para garantir a punição a desvios de conduta, e definir o que seria notícia falsa também pode ser relativizado”. Mudanças sociais e culturais seriam mais adequadas, segundo o especialista, que defendeu ainda a constante checagem de informações.
Durante sua explanação, o filósofo Luiz Felipe Pondé fez uma análise acerca dos motivos que levam o cidadão a consumir. “Consumimos mentiras porque gostamos de consumir o que nos diverte. Só relativizamos aquilo que não concordamos”, elencou as notícias falsas como verdade, muitas vezes, sabendo que não estão de acordo com a realidade dos fatos.
A lógica do desejo e gostos pessoais como critério de consumo de notícias também foi apresentada pelo jornalista e conselheiro de ética da Abracom, Eugênio Bucci, que mencionou a paixão e o prazer como fatores decisórios neste processo de escolha, em detrimento da razão. Ele também frisou a checagem e a necessidade de disponibilização, cada vez maior, de fatos acessíveis para garantir a entrega de uma informação de qualidade – matéria-prima do “bom jornalismo”.
O combate aos mercados de mentiras
“A grande imprensa erra, mas busca a correção dos seus erros. Tem que ser constante a busca pela clareza e a checagem jornalística. Não estamos nesta área para fazer amigos, mas para prover a pluralidade das informações com responsabilidade”, abordou o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech.
Segundo Rech, já estão surgindo campanhas publicitárias, sobretudo nos Estados Unidos, para explicitar a diferença entre a produção profissional da informação e a elaboração de informações por meio das redes sociais.
O diretor de redação da revista Época, João Gabriel de Lima encerrou o evento com uma visão otimista do futuro. Abordando o papel das revistas neste cenário, declarou o aspecto consolidador destas publicações ao aprofundar o assunto, os perfis e as histórias.