A Abracom e a Associação Brasileira dos Anunciantes (ABA) promoveram o I Fórum do Pensamento no dia 19 de outubro. O evento foi realizado no Faria Lima Square (Av. Faria Lima, 3.600) das 9h00 às 17h30 e sua abertura ficou encarregada ao presidente da Abracom, Ciro Dias Reis, e à presidente do comitê de Comunicação Corporativa da ABA, Gislaine Rossetti. Foram recebidos cinco palestrantes cujos temas principais eram tecnologia, valor intangível, cases de uso de mídia digital e sustentabilidade como obrigação empresarial.
A palestra que deu início ao Fórum foi a de Regina Migliori, cujo título era O futuro do conhecimento ou o conhecimento do futuro. A Dra. em Epistemologia explicou através da neurociência como os seres humanos aprendem e, além disso, coloca a repetição de modelos de pensamento como causa para nossa dificuldade em mudar de atitude em relação ao mundo. “Nós não fomos criados para pensar nos resultados de nossas ações, que se eu jogar um saco que lixo aqui ele mata uma tartaruga no meio do Pacífico” afirma Migliori. O conceito de Sustentabilidade atual (atender às necessidades atuais sem comprometer as futuras) é criticado pela Consultora de Cultura de Paz da UNESCO, esta diz que o conceito correto seria: sustentabilidade é viver sem provocar danos hoje, nem impactos negativos no futuro. Ela afirma ainda que o planeta sobrevive sem a humanidade, portanto, somos nós que corremos riscos e não a Terra.
Combatendo a ideia comum de que informação é poder, Regina Migliori defende que existem muitos “arquivos-humanos” – pessoas com informação, mas que não pensam sobre ela. Seria preciso pensar e analisar os dados que se tem para então conseguir produzir conhecimento. E, do conhecimento, é possível partir para um estágio mais evoluído de nosso pensamento: a sabedoria. Sua definição seria: sabedoria é criar coerência entre o que sei, o que sinto e o que faço. Ou seja, para mudar sua atuação, o homem necessita acreditar que vale à pena essa alteração. A diretora do Instituto Migliori afirma que, para criar uma mudança de comportamento, é preciso que avaliemos se os modelos de pensamento que recebemos constantemente se voltam para o bem comum ou para promover a necessidade de provimento próprio. Mudando as “redes neurais e sociais” que recebemos, é possível não só alterar o que as pessoas pensam, mas também como pensam.
Segundo Migliori, temos áreas do cérebro voltadas para o processamento de valores e outra, mais primitiva, que trata da agressividade e do prazer imediato. Como os seres humanos estão viciados nesta sensação de bem-estar instantâneo através, por exemplo, do consumismo, nota-se que os modelos vigentes levam a um pensamento mais individualista gerando compulsões e até vícios. A palestrante finaliza afirmando que devemos aplicar o máximo possível no desenvolvimento da parcela ética de nosso cérebro para não só perpetuar a espécie, como também influenciar em sua evolução.
Daniel Domeneghetti, CEO da DOM Strategy Partners, tratou principalmente dos valores intangíveis que a área de Comunicação traz para a empresa. Esta está em um período de muita pressão onde os ideais de curto e longo prazo se conflitam no ambiente corporativo. As corporações hoje são impelidas à obrigação de possuir uma inovação contínua e padrões de diferenciação sustentáveis frente à concorrência, além disso, a tendência que se observa é que as empresas acabam por assumir responsabilidades ambientais e sociais do governo e também dos cidadãos. Mas não estão preparadas para assumir tal incumbência.
Para Domeneghetti, a área de Comunicação é a principal fonte de valores intangíveis como inovação, sustentabilidade, marca, talentos e governança corporativa. A área também fornece a gestão desses valores decisivos para se alcançar um diferencial ante a dinâmica competitiva atual – esta tem suas bases nos intangíveis. Estes, por sua vez, são os responsáveis por aumentar e/ou manter o valor da empresa, não no que se tem como lucro e sim o quanto vale aquela corporação – o intangíveis são ainda capazes de potencializar o resultado dos tangíveis (como produção, venda, dentre outros).
Nessa palestra foi informado que as empresas que sofreram a crise de 2008 e enveredaram por um corte de custo total – principalmente na área de Comunicação – apresentaram um resultado mais favorável em curto prazo do que as que decidiram por um corte “cirúrgico” dos gastos. Contudo, em longo prazo estas que refletiram mais sobre o que deveria ser cortado ou não estavam em uma situação muito melhor do que as que reduziram os custos massivamente. Um exemplo, para Domeneghetti, são os bancos – este setor é feito de empresas compostas por pessoas e tecnologia onde 70% a 80% dos investimentos ocorrem na área dos intangíveis. O CEO da DOM Strategy Partners afirma ainda que resultados e reputação devem andar juntos, já que a reputação dá permanência aos resultados e os resultados sem reputação são de curto prazo.
A terceira palestra do dia foi presidida por Lálá Deheinzelin, cujo tópico foi “Economia Criativa”. A Consultora Internacional da UNESCO afirmou que a Sustentabilidade não é mais adjetivo opcional, mas sim que dará o modus operandi de como as empresas e as pessoas lidarão com o mundo. Deheinzelin critica a falta de inovações funcionais, ela afirma que muitas das soluções que são criadas cumprem a função de paliativos e não de uma resolução realmente inovadora. A CEO da Enthusiasmo Cultural reafirma o que foi dito por Domeneghetti e acrescenta: “Os intangíveis garantem a longevidade da empresa”. Os intangíveis antes seriam invisíveis, pois não havia métricas para mostrá-los aos gestores e ao mercado. Todavia, com o advento de novas tecnologias, foi possível demonstrá-los. Deheinzelin se baseia em três pilares: 1.Diversidade cultural, 2.Novas tecnologias e 3.Novos métodos colaborativos. E frisa que a área de Comunicação precisa focar em obter novas métricas para se tornar palpável e visível à alta gestão empresarial.
Abrindo a sessão vespertina do I Fórum do Pensamento, Bonin Bough trouxe cases da própria Pepsico, onde é o Global Digital Director. Para ele, as empresas estão na era jurássica se as compararmos com seus consumidores no quesito do uso das tecnologias e da conectividade da rede. Ele questiona se as corporações estão preparadas para se adaptar à situação de 100% digital para a qual se encaminham os clientes. Bough diz que os próprios colaboradores de nossas empresas possuem, normalmente, um browser mais avançado em suas residências do que o utilizado no trabalho. Para melhorar este quadro, o diretor da Pepsico coloca a solução do Fitness Digital, trata-se de fornecer treinamento e disciplina para seus funcionários, ensinando-os a utilizar o meio digital. Para isso, Bough tem cinco passos:
1. Convide inovação, procure-a; 2. Busque meios de desafiar as convenções; 3. Experimente sempre novas tecnologias; 4. Não deixe que o desejo de perfeição se torne inimigo do bom; 5. Aprenda, enxágüe e repita. Repetição é essencial para tonificar nosso “músculo” para o uso do digital bem treinado.
Segundo o palestrante, a internet não é tão importante na inovação da empresa quanto a presença nos dispositivos móveis. Ele fixa que é necessário fazer projetos pilotos, pois sem estes testes não surgem novidades capazes de dar um diferencial real às empresas.
A última apresentação do dia foi a de Silvio Meira que abordou a evolução da internet e dos meios colaborativos nos novos consumidores. Esta figura seria extremamente social, usa de novos canais de comunicação, troca opiniões com outras pessoas na internet, priorizam a experiência online, avaliam ao participar e produz conteúdo. Segundo o professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, há uma descentralização muito acentuada de informação. O case da Magazine Luiza em que esta começa a fazer o social commerce através das redes sociais foi um dos tópicos abordados pelo palestrante, acentuando o case como tendência do mercado.
O I Fórum do Pensamente foi fechado por Cristina Mello, consultora, diretora de Estratégia e Branding do Portal Nós da Comunicação e Conselheira da Revista de Comunicação 360°. O evento cumpriu com sua missão nesta primeira ocorrência ao trazer profissionais experientes que buscam vislumbrar o futuro, porque, como foi dito no dia, “se tentarmos ser do nosso tempo, já estaremos ultrapassados”.