Ciro Dias Reis*
O maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão. O reconhecimento do erro e da ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a ilusão não se reconhecem, em absoluto, como tais”. As palavras do pensador francês Edgar Morin podem muito bem ser aplicadas aos bem-sucedidos esforços realizados pelo Brasil para sediar tanto a Copa do Mundo de futebol em 2014 quanto os Jogos Olímpicos de 2016.
Ao tentar evitar “as cegueiras do conhecimento”, que é como Morin define o erro e a ilusão, as equipes que trabalharam nas candidaturas brasileiras para as duas megacompetições de 2014 e 2016 superaram as limitações de candidaturas derrotadas no passado e lançaram mão de abordagens muito próximas das utilizadas no universo corporativo: foco; estabelecimento de prioridades e uso de ferramentas adequadas para atingi-las; exploração das vantagens competitivas; adoção de mensagens-chave. Tudo isso costurado por um competente processo de comunicação capaz de gerar reputação.
E não há por que esperar da comunicação um papel menor de agora em diante, seja com relação à Copa de 2014 ou às Olimpíadas de 2016. Exercitada de maneira estratégica, ela deve contribuir para gerar percepções positivas sobre o país. Mas a comunicação não se faz no vácuo. Sua eficácia é resultado direto do lastro que ela oferece. Discursos, nessa etapa, contam pouco diante dos fatos. Grandes eventos são uma vitrine para o mundo acerca do nível de organização e capacidade de gestão de países que os sediam. A sociedade global altamente interconectada começa a formar sua opinião sobre a capacidade de articulação de um país-sede muito antes de soar o apito para a primeira competição.
O lema olímpico “Citius, Altius, Fortius” (“Mais rápido, mais alto, mais forte” em latim) foi criado para definir a performance desejada dos atletas, mas pode ser visto sob outra ótica: aquela que traduz uma expectativa de que a cada nova versão o evento de maior audiência do planeta seja ainda mais perfeito. O arquiteto Bill Hanway, um dos coordenadores do projeto Legado dos Jogos de Londres 2012, diz que uma realização dessa magnitude deve se propor a solucionar desafios da cidade-sede de uma maneira ampla. Segundo ele, o projeto Legado dos Jogos de Londres 2012 foi pensado para garantir o usufruto de melhorias na cidade “pelo menos até 2040”.
É razoável que se tenha expectativa semelhante em relação aos legados possíveis dos eventos de 2014 e 2016 no país. E o tempo está correndo. Ou, como disse no livro “Quando é dia de futebol” o poeta Carlos Drummond de Andrade: “E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano está na segunda metade?”
CIRO DIAS REIS é jornalista e presidente da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom).
Fonte: Jornal O Globo