A alma imoral e o futuro das agências

* Malu Fernandes


 


Passei a acompanhar mais a sabedoria do rabino Nilton Bonder por causa de minha sócia, que freqüenta a Sinagoga liderada por ele. Lendo agora seu livro, a “A Alma Imoral”, que também faz sucesso no teatro e teve sua temporada prorrogada, me deparo com um capítulo que me tira da leitura e me transporta ao computador para um desabafo sobre uma angústia a respeito do futuro das agências de comunicação. “O longo caminho curto X o curto caminho longo” reflete sobre uma fala do rabi Ioshua, filho de rabi Hanina. Resumindo, Bonder comenta que, na trilha da sobrevivência, a mesmice muitas vezes é o caminho curto, o mais simples e o que tem custos mais elevados.


 


No curso que fizemos na Syracuse University no ano passado um dos cinco módulos era sobre tendências em comunicação e elas passam pela nossa inteligência de fazer crescer a importância da comunicação em nossas empresas para que tenhamos assento na diretoria e, para tal, é preciso informação, experiência, network, relacionamento, visão, intuição e uma série de atributos que passam pela capacitação e valorização de nossas equipes, qualificando-as para desafios cada vez mais estratégicos do que táticos. Este é o caminho longo e menos simples mas o que tende a levar ao olimpo.


 


O que me fez parar a leitura neste sábado à noite é a certeza de que este é o atalho para as estradas de longa duração que são pavimentadas em asfalto de qualidade diferente dos que optam pelas rodovias de curto prazo, aquelas mais baratas, aquelas que não têm compromisso com a elevação de nossa profissão à assembléia de acionistas. Esta gente tem interesse que o profissional de comunicação continue sendo um analista, tarefeiro e por isso nos desmerece.


 


Minha luta é pela inteligênzia (com z) com  para que consigamos empregar todos os talentos a serviço do reposicionamento de nossa área nesta era do foco no resultado, da mensuração de cada evento, da eficácia e lucratividade a qualquer custo. Meu desabafo é para que os donos de agência tenham consciência na hora de formatar seus preços. Podemos perder batalhas, mas não a guerra. Aceitar certos leilões reversos é humilhação a que não podemos  nos submeter. E, cá entre nós, não precisamos disso.


 


Cabe a nós com tanto estudo, inteligência (com c) e articulação lutar pela retomada das ferrovias ou a expansão das vias fluviais se as rodovias não estiverem mais frutíferas, mas jamais deixar estradas esburacadas e de terra porque não nos deram orçamento para trabalhar. Temos uma reputação a zelar. É uma questão de sustentabilidade para nossas agências. Sobreviverá quem souber fazer a opção pelo longo caminho curto, diz Bonder, e não pelo curto caminho longo. Eu acrescento: eu prefiro o caminho menos percorrido a esta luta de foice que leva a um perde-perde. Em nosso dia-a-dia sabemos muito bem quais são os longos caminhos curtos e os curtos caminhos longos. O terceiro milênio é o das novas relações de trabalho, de amizade, amor e concorrência. Coragem! E cuidado: “o curto caminho longo pode não levar a lugar nenhum”, adverte o rabino.


 


* Malu Fernandes é sócia-diretora da Shopping de Comunicação          


FONTE: Shopping de Comunicação

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