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Todos sabem que nosso tempo é bastante restrito para absorver o infindável número de informações que nos rodeiam. Nem precisamos recorrer ao visionário Peter Drucker para entender que tempo disponível é algo que não pode ser armazenado. Passou, passou. Nesse contexto, nas empresas, até mesmo os veículos de Comunicação Interna competem com outros meios informativos, como os jornais diários que despencam em nossas mesas.
Quem, aliás, já não preferiu passar os olhos pela primeira página do Estadão, logo de manhã, a ler sobre a inauguração de mais uma filial da companhia, na Intranet? Nem poderia ser diferente. No dia-a-dia do mundo corporativo – e até fora dele, a tendência é sermos cada vez mais seletivos em nossa leitura, porém sem nos esquecermos de que é preciso absorver conhecimentos úteis e relevantes para as nossas atividades.
Ser seletivo é estabelecer prioridades dentro de interesses pessoais e profissionais com a combinação de um elemento extremamente importante chamado tempo. Somam-se ainda a esses fatores as capacidades de análise e reflexão da pessoa seletiva.
Atuar sobre o tempo, tendo ele a nosso favor, é certamente um dos desafios mais difíceis. Quem o faz de forma eficiente consegue realizar muitas atividades. Uma por vez, sem interrupções, do começo ao fim, que é a forma correta, e não diversas ao mesmo tempo. Caso necessite de uma boa dica sobre a administração do tempo, o que contribui para a eficácia do trabalhador do conhecimento, então, agora sim, recorra ao Drucker (O Homem).
Nossa idéia aqui é outra. Queremos evidenciar o tempo como o elemento central que influencia a existência da seletividade e reforçar essa importância para o gestor de Comunicação Interna. Vale lembrar que tempo disponível equivale a tempo produtivo.
Dentro do tempo disponível, a pessoa seletiva primeiro escolhe o canal que julga mais adequado. É a força da atratividade, uma variável sobre a qual falaremos em outra oportunidade. Eleito o canal, sua leitura conseguirá fazê-la reter a idéia principal da informação que escolheu, o que lhe dará condições para refletir sobre o assunto nas horas seguintes – ou dias depois.
Se você já fez um comentário do tipo “Não sei onde li, mas o programa de stock options da empresa deverá ser lançado no próximo mês”, há fortes indícios de que você já se tornou um seletivo. A principal informação foi retida, embora você não se lembre qual o canal “selecionado”. Ser seletivo, entretanto, não significa deixar de absorver a informação por completo. Dentro do tempo disponível, o seletivo pode desprezar informações que julgar menos importantes e se dedicar completamente à leitura de um ou mais temas na íntegra.
É comum também dizermos que um dos constantes desafios dentre as muitas responsabilidades do gestor de Comunicação Interna é a sua preocupação com conteúdos mais diretos, claros e objetivos. Em parte, essa afirmação é verdadeira. Ocorre que a gestão das informações corporativas é algo de extrema complexidade e envolve o alinhamento do conteúdo aos objetivos estratégicos da empresa. De nada vai adiantar esse esforço em Comunicação se a visão do gestor não estiver centrada no “tempo disponível” do público interno. Precisamos lembrar que comunicamos para um grande universo de pessoas seletivas que não dispõem do tempo que, hoje, julgamos terem.
Aspectos como o próprio ambiente de trabalho, a forma de a empresa se relacionar com o mercado e uma série de outros fatores impactam o tempo das pessoas. O gestor de Comunicação Interna deve buscar o equilíbrio das informações considerando a variável “tempo disponível” e sua influência no aspecto da seletividade para o planejamento da entrega de conteúdo.
Um trabalho é selecionar informações sob o nosso próprio ponto de vista, compactar esse conteúdo e mandá-lo para frente. Outro é considerar primeiro o tempo disponível das pessoas para então selecionar, com critério, as informações que se ajustem ao processo natural da seletividade desse público. Embora pareça algo bastante evidente, poucos gestores costumam praticar esse exercício. Esse é um trabalho, aliás, que ainda contribui muito para a distribuição das informações nos canais adequados.
Se décadas atrás Caetano já questionava “quem lia tanta notícia”, hoje, não seria diferente. Sem critérios preestabelecidos, ignorando a seletividade e o tempo disponível das pessoas, o excesso de informação cegaria a nossa própria inteligência.
Luiz Santiago é administrador e jornalista, pós-graduado em Administração de Marketing pela Universidade São Judas e pós-graduando em Comunicação com o Mercado pela ESPM. É diretor da L. Santiago Comunicações, consultoria especializada em projetos de Comunicação Interna. Site: www.lsantiago.com.br. Contatos: lsantiago@lsantiago.com.br.