Na antiguidade, os guerreiros utilizavam catapultas para lançar suas bombas contra o alvo dos inimigos. Eles nunca sabiam qual era o resultado real. Devastador com certeza, mas impossível de imaginar quantos mortos, mutilados, feridos ou ilesos. Hoje, as guerras são muito diferentes, para atingir os inimigos, os mísseis são controlados por potentes e sensíveis sensores e teleguiados para acertar o centro do alvo desejado, mesmo estando a quilômetros de distância.
Na guerra do Golfo, Saddam Russein se viu impotente, pois assistia, sem qualquer possibilidade de reação, seus quartéis e locais estratégicos serem bombardeados por equipamentos instalados em pleno oceano e corre o mesmo risco outra vez. O que dizer do ataque contra o Afeganistão, cujo bombardeio aéreo acertava as bocas das cavernas e o míssil seguia seu caminho internamente até a explosão fatal.
Retomando a linha do artigo anterior, vamos falar da complexidade de construir imagem positiva. Para começo de conversa, não é difícil imaginar o que é preciso fazer para construir imagem. Basta comunicar-se.
Quando os comunicadores do dia-a-dia afirmam que estão trabalhando para construir imagem, falam sério, porque estão se baseando na teoria geral da comunicação. Se você tem um emissor, um receptor, um canal e uma mensagem, você está fazendo comunicação. E comunicação cria imagem. O processo é simples, a informação, enviada por qualquer meio, atinge um dos receptores de sensibilidade humana, estimula a decodificação e se fixa na mente, gerando uma determinada opinião. Quem tem uma opinião faz algum tipo de juízo e cria imagem a respeito do assunto que está tratando.
Você vê algo de errado nisso?
O problema é que a comunicação praticada dessa forma é livre, sendo impossível determinar qual será o impacto da informação, em que nível ela será compreendida, que tipo de opinião está sendo formada e que imagem resultará dela. A imagem criada dessa forma não está sob o controle do comunicador. Ela será como as bombas das catapultas, devastadoras, mas sem o controle e a certeza do resultado. É o mesmo que uma escultura de fumaça, que se esvaece sempre que for deixada ao tempo.
O que coloca esse conceito em desgraça são duas outras dimensões, nem sempre consideradas: a impessoalidade da comunicação e a previsibilidade do comportamento.
A impessoalidade se caracteriza quando uma única mensagem é enviada a muitas pessoas ao mesmo tempo. A comunicação tem alvo certo, mas é centrada no meio. No caso da previsibilidade do comportamento, a comunicação visa alcançar objetivos pré-estabelecidos, considerando que as interpretações e reações das inúmeras pessoas que a recebem serão as mesmas ou as esperadas. Isso é simplesmente tentar padronizar o comportamento humano para alcançar um objetivo unilateral.
O indivíduo não reage dessa maneira. Ele tem independência, liberdade de pensamento e interesses próprios. Faz juízo de valor e considera as varias situações de acordo com seu desejo e capacidade de interpretação. Porém, saber disso, não representa ainda sucesso em suas ações de comunicação. É como o míssil teleguiado, que atinge o objetivo de forma incontestável, destrói na certeza de que realizou sua mais fantástica ação. Porém, só pode conferir seu resultado e poder de destruição depois que todos estiverem mortos ou dominados.
O Preconceito
Uma outra e mais complexa situação precisa ser observada. Se por um lado, somos capazes de observar, avaliar e julgar os fatos, por outro, o fazemos, na maioria das vezes.
Utilizando um referencial próprio ou disponível naquele momento, criando muito mais pré-julgamentos e pré-conceitos do que conceitos propriamente ditos. São comportamentos abstratos naturais que não podem ser modificados simplesmente pela manutenção da comunicação. Nesse caso, quanto mais você comunicar, mais preconceitos estará criando.
O Conceito
O comportamento humano e a comunicação funcionam como o tear, que transforma aquele emaranhado de fios e cores numa trama perfeita, definindo a harmonia das cores e o desenho desejado no tecido social, que você quer dar para o contexto que está construindo. Assim é o controle da imagem, que só é possível quando você sabe qual é a opinião do indivíduo, como ele pensa e processa as informações que recebe. Somente com esse controle você poderá trabalhar para melhorar a qualidade da opinião dele e construir imagem positiva de acordo com sua estratégia de comunicação.
A Arte
Assim é Relações Públicas, que tem como premissa abandonar toda e qualquer unilateralidade, exigindo a utilização de todo o instrumental para identificar, não apenas as opiniões dos indivíduos, mas suas percepções e expectativas.
Conhecendo o estado e a qualidade das opiniões dos grupos que está trabalhando, você define o conceito que quer desenvolver e planeja as ações em função dele. As ações dirigidas de comunicação vão acrescentando informações ? corretas e boas – no contexto do público e atingindo individualmente cada integrante, fazendo com que o estado da opinião seja modificado gradativamente até atingir um determinado nível de qualidade, aquele que você planejou.
Somente depois do conceito definido, a ação se transforma em comunicação. Relações Públicas não se limita a disseminar e divulgar informações, mas sim, desenvolver ações que determinem o melhor nível de relacionamento da empresa com seus públicos, respeitando suas características individuais e adotando uma abordagem e linguagem específicas, para que o resultado da comunicação seja o mais efetivo possível.
O contexto com essa profundidade faz a comunicação assumir um caráter de Arte, Transformando permanentemente Preconceitos em Conceitos.
Interação
O mercado está buscando melhorar a qualidade dos serviços de comunicação e evoluindo nesse sentido. Se você trabalha com objetivos de formar imagem, que semelhança com esse conceito tem o seu trabalho? Você tem controle sobre o resultado dele? Poderia identificar a qualidade das opiniões do seu público? Que tal discutirmos as formas de como fazer isso. É perfeitamente possível realizar esse conceito na prática. Aguardo suas opiniões.
(*) Flávio Schmidt é Diretor de Comunicação Organizacional de Ketchum Estratégia e Presidente do Conferp – Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas