A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial – ABERJE (que logo logo acrescentará ao seu nome também a palavra Organizacional) mostrou ser uma das mais amadurecidas e ousadas instituições brasileiras, mudando os estatutos para poder profissionalizar definitivamente sua administração. De agora em diante, a tradicional diretoria ganha assento num Conselho Deliberativo, sob a presidência de Rodolfo Guttilla, e todas as atividades operacionais passam a ser geridas por um presidente executivo, que será o mesmo Paulo Nassar, que já cuidava de grande parte da administração da entidade, mas com status de diretor.
Com isso, os diretores livram-se de vez das questões burocráticas e ganham tempo e fôlego para fazer o que deles mais se espera: pensar, planejar e agir a favor da comunicação em todos os seus aspectos mais relevantes, deixando o gerenciamento do dia-a-dia para uma equipe efetivamente remunerada para isso. Comprometidos como estão hoje os profissionais com as organizações que representam, quanto mais operacionais eles tem de ser numa entidade de classe, menos funcionam e mais delas se distanciam.
Outro exemplo marcante, nesta direção, se deu com a criação da Associação Brasileira das Agências de Comunicação – ABRACOM, em meados do primeiro semestre, congregando cerca de 60 das mais importantes empresas do setor.
Escaldado por tentativas anteriores de organização, as agências só se animaram a novamente se organizar dentro de uma entidade com o compromisso inarredável de que a administração e parte da operação fossem profissionalizadas. Todos sabiam que essa decisão seria mais dispendiosa no curto prazo (como está efetivamente sendo), mas há entre os participantes o consenso de que a médio e longo prazos o custo-benefício dessa decisão será enorme, pois permitirá que a entidade efetivamente funcione, gerando os resultados por todos esperados.
A ABRACOM não chegou, obviamente, à sofisticação da ABERJE, até por ser ainda muito nova e dispor de poucos recursos para vôos tão ousados. Mas certamente se espelhará nela quando chegar o momento de dar um novo passo.
A ABERJE, não podemos esquecer, nasceu nos idos dos anos 60 por iniciativa até certo ponto despretenciosa de colegas que editavam revistas e jornais de empresa (daí a própria razão do nome). Quando a Comunicação Corporativa precisou de uma representação mais efetiva, a entidade foi transformada oficialmente na Associação Brasileira de Comunicação Empresarial e deu seus primeiros passos na direção da mudança, com a eleição de Miguel Jorge para a presidência, por insistência e influência direta de Antonio Alberto Prado. Prado foi, portanto, o primeiro visionário do que estava porvir.
Ele percebeu que havia espaço e necessidade para essa evolução, mas achava que a entidade precisava de um nome para seu comando que impusesse respeito ao mercado e aos próprios associados. E Miguel era (como ainda é) uma das maiores expressões profissionais da comunicação brasileira. O próprio Prado depois o sucedeu e quando chegou a hora de passar o bastão convenceu os colegas de que a entidade, naquela altura, precisava não mais de um profissional típico, mas sim de alguém com peso no campo empresarial, que pudesse explodir o discurso da comunicação corporativa nos staffs das organizações e entidades empresariais.
Foi quando nasceu a idéia e o consenso de convidar o jornalista, advogado e empresário Ruy Altenfelder, figura de proa no meio empresarial e político, para presidir a ABERJE. Ruy foi o indutor da segunda mudança de qualidade na administração da ABERJE: a contratação de um secretário executivo, que a partir dali iniciaria o tão sonhado processo de profissionalização.
Daí para a frente a comunicação corporativa e empresarial experimentou um crescimento dos mais expressivos tanto quantitativa quanto qualitativamente. Deixamos de ser o editor do jornalzinho, ou o homem que lê os jornais todos os dias, ou ainda a figura que organiza os eventos dentro das empresas e instituições, para ser integrante do primeiro escalão das empresas (não de todas, obviamente, mas de um grande número delas). De subalternos sem maior serventia (com as raras e honrosas exceções de praxe) passamos a ter peso e a ser ouvidos nas estratégias de negócios, no planejamento da empresa, na discussão das ações que geram resultados. Enfim, deixamos de ser despesa para integrar o time que ajuda a gerar receitas.
Isso beneficiou também o mercado de fornecedores, pois se houve (como era de se esperar) um enxugamento dos departamentos de comunicação (como de resto todos os demais departamentos que pouco ou nada tinham a ver com a operação direta de determinada empresa), houve, por outro lado, a decisão de se investir mais e melhor nesse naco da comunicação, fruto da excelente relação custo-benefício que ele trazia para as empresas (tanto em imagem como e principalmente nos negócios).
No vácuo dessa nova mentalidade entraram, cresceram e se profissionalizaram as agências de comunicação, muitas delas hoje maiores que a maioria das redações brasileiras – embora muito distantes, ainda, em termos de faturamento, das primas americanas.
Se funcionou dentro das próprias agências, a profissionalização também funcionaria na entidade setorial. Optar por esse caminho foi, pois, apenas questão de coerência e lógica, daí a ter sido item eliminatório na criação da ABRACOM.
Se hoje a Comunicação Corporativa e Empresarial, de um modo geral, é uma das que melhor remunera os colegas das áreas de jornalismo e relações públicas, se é uma das que mais crescem, dentro do mercado em geral, se conquistou o respeito de seus vários interlocutores, grande parte se deve a essa profissionalização e à visão desse grupo de idealistas que põe a causa da comunicação à frente de seus próprios interesses particulares e corporativos."
FONTE: Comuniquese