De concorrentes a aliadas. Em busca da própria identidade, agências brasileiras de comunicação unem forças e começam a discutir juntas as dificuldades, carências e desafios de um mercado que cresce em ritmo acelerado, mas que esbarra em situações como a inexistência de dados concretos sobre quem são e como atuam tais empresas.
Formalizada há menos de um mês, a Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) tem como prioridade catalogar as empresas do setor, traçando assim um perfil real de cada uma delas. "Tudo o que há são hipóteses, dados aproximados", afirma João Rodarte, presidente da entidade.
Segundo ele, dados preliminares indicam que pelo menos mil empresas desenvolvam trabalhos nesta área no Brasil – das quais 600 têm atuação entre São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. "Queremos ter uma idéia consistente sobre cada uma dessas empresas. Só assim teremos condições de saber como e quanto este mercado tem crescido", informa Rodarte.
Ele sabe que o ritmo de crescimento das agências de comunicação tem sido mais do que intenso nos últimos anos. A julgar pelo resultado obtido pelas dez maiores empresas do setor que, segundo Balanço Anual da Gazeta Mercantil, faturaram em 2000 o equivalente a R$ 64 milhões – volume duas vezes maior do que o registrado quatro anos antes. "Calcula-se que em 2001, essas mesmas empresas tenham faturado juntas mais de R$ 100 milhões", diz Rodarte, que também é presidente da Companhia de Notícias, agência que lidera o ranking do setor e que, segundo o empresário, fechou 2001 com faturamento de, aproximadamente, R$ 16 milhões.
Além do desafio de identificar quem são e como atuam as agências, a Abracom esforça-se para conseguir criar, ainda a curto prazo, um código de ética para o setor, a exemplo do que existe na área de publicidade com o Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária (Conar). "É imprescindível estabelecer critérios que beneficiem o desenvolvimento não só de uma, mas de todas as empresas".
A idéia de unir esforços em benefício do segmento começou a ser discutida há cerca de um ano por um grupo pequeno de agências de comunicação e logo ganhou adesões. Tanto que durante a oficialização da entidade, ocorrida no último dia 17, 53 agências se inscreveram como associadas, entre elas nomes como Máquina da Notícia, LVBA, S2 e Mega Brasil.
Para a diretora de relações internacionais da Abracom, Sandra Sinicco, muitas agências enfrentam dificuldades no mercado por serem taxadas de "distribuidoras de press releases". "Há a necessidade de se definir melhor as diferenças entre uma empresa e outra. Nosso trabalho, por exemplo, não está restrito à velha função de assessoria de imprensa. Pelo contrário. Envolve inúmeros serviços, como análises qualitativas, estratégia para internacionalização de marcas, entre outros", diz Sandra, CEO do grupo ICL – que faturou R$ 8 milhões em 2001. Ela ressalta, no entanto, que o fato de agências oferecerem serviços muito mais amplos do que os tradicionais de assessoria de imprensa não exclui aquelas que o fazem.
"A Abracom pretende reunir todas as empresas do setor, independentemente do tamanho ou tipo de serviços que elas oferecem. A intenção é mostrar o que cada uma faz para que o cliente escolha qual a mais adequada para prestar os serviços que deseja", afirma Sandra.
Outro desafio para a Abracom será fazer com que as agências de comunicação tenham maior atuação junto ao setor público. "Para se ter uma idéia, não há concorrências públicas para agências de comunicação. Os órgãos fazem a licitação com agências de publicidade, que por sua vez, subcontratam as empresas de comunicação. Isso faz com que o mercado fique muito restrito", afirma Irene Vucovix, sócia-diretora da Lide Soluções Integradas em Comunicação, agência associada à Abracom que faturou R$ 4 milhões em 2001 e espera quadruplicar a receita neste ano.
FONTE: Gazeta Mercantil