Por Eduardo de Natale*
O marketing de influência está atravessando uma transformação silenciosa — e profunda. Se há poucos anos o grande desafio era identificar criadores com autenticidade e conexão com seus públicos, hoje as plataformas estão cada vez mais envolvidas em algo maior: algoritmos que preveem tendências, inteligências artificiais que criam conteúdo e influenciadores que sequer existem de verdade.
Mas essa não é uma visão futurista distante. É o presente em mutação.
Para quem trabalha com comunicação, entender esse movimento é essencial para não ficar para trás. Mais do que isso, para saber como se posicionar estrategicamente em meio a essa revolução.
IA generativa e o novo conteúdo sob demanda
A inteligência artificial já deixou de ser uma ferramenta de apoio para se tornar protagonista em muitas etapas das campanhas de influência. Ferramentas como ChatGPT, Runway ou Descript não só otimizam processos — elas reescrevem a lógica de criação. Com poucos prompts, é possível gerar roteiros, thumbnails, falas personalizadas para diferentes públicos e até simular variações de formatos para cada canal.
Segundo pesquisa da HubSpot (2024), 78% dos profissionais de marketing já utilizam IA para acelerar a produção de conteúdo. E o impacto é claro: 61% relatam aumento direto na produtividade e eficiência das entregas.
Mais do que uma questão de velocidade, o uso de IA traz novas possibilidades de personalização em escala. A inteligência aprende, adapta, replica tons de voz e até antecipa o que pode gerar maior engajamento — um luxo que, até pouco tempo, só era possível com grandes equipes de conteúdo e planejamento.
Creators virtuais e o novo imaginário digital
O conceito de influenciador vem sendo expandido — e desafiado — por personagens que não são reais, mas são incrivelmente convincentes. Lil Miquela, FNMeka e a brasileira Lu do Magalu são exemplos de avatars digitais que acumulam milhões de seguidores, contratos com grandes marcas e uma base de fãs engajada.
Para a geração Z, isso não é um problema. Um estudo da WGSN (2023) aponta que 43% desse público não se importa se o creator é real ou virtual, desde que represente valores e estética com os quais se identifiquem. A Influencer Marketing Hub projeta que os investimentos em influenciadores virtuais devem crescer mais de 250% até 2027.
Na prática, isso significa controle criativo total. Marcas podem desenvolver seus próprios avatares — com personalidade, aparência e valores alinhados ao branding — ou se associar a criadores sintéticos já consolidados. A grande vantagem? Escalabilidade, previsibilidade e ausência de crises humanas.
Tendências em tempo real e automatização das decisões
Outra frente de transformação passa pela automatização da análise de dados e pelo uso de IA preditiva. Ferramentas como BuzzSumo, Winnin Insights, TrendAI e Neural.love têm evoluído para identificar, em tempo real, temas emergentes, padrões de comportamento e potenciais de viralização.
Isso permite que marcas tomem decisões mais rápidas — e com mais embasamento. Em vez de olhar para o passado para entender o que funcionou, a tecnologia permite agir com base no que vai funcionar.
Além disso, essas ferramentas conseguem cruzar dados de diferentes plataformas, oferecendo uma visão integrada do que está ganhando tração em cada rede. Esse tipo de insight tem se tornado essencial para campanhas multicanais e estratégias que exigem agilidade de resposta.
Tecnologia como aliada, não substituta
Em meio a tanta tecnologia, é fácil imaginar que o papel humano será reduzido. Mas não é o que se observa. O que muda é o tipo de contribuição esperada dos profissionais de comunicação.
Curadoria ética, leitura de contexto, construção de narrativas e conexão genuína ainda dependem — e muito — da sensibilidade humana. A IA pode automatizar tarefas, sugerir caminhos e até propor soluções, mas ela não substitui o olhar estratégico e a capacidade de adaptação que só pessoas são capazes de oferecer.
O desafio, portanto, não é competir com as máquinas, mas entender onde elas podem liberar tempo e energia para que os humanos foquem no que realmente importa: criar valor.
O futuro é híbrido — e já começou
As plataformas de influência estão se tornando ecossistemas vivos, moldados por dados, IA e criadores que mesclam o físico e o digital. Para quem atua nesse mercado, a chave está em acompanhar esse movimento de forma crítica, estratégica e curiosa.
Saber quais ferramentas utilizar, como combinar tecnologia com repertório humano e como manter a criatividade viva em um ambiente cada vez mais automatizado é o que vai diferenciar os líderes dos seguidores nesse novo cenário.
Afinal, o futuro da influência não é sobre substituir pessoas. É sobre ampliar o alcance do que podemos fazer com elas e com a tecnologia ao nosso lado.
*Por Eduardo de Natale, Consultor de Comunicação e Design Estratégico associado à Abracom