Ugo Braga
Da equipe do Correio
Uma artimanha contábil e desinformação empresarial podem estar por trás do episódio que pôs em polvorosa o mercado de comunicação corporativa de Brasília. Na manhã da segunda-feira, a Amanda Construção, Administração e Serviços Ltda. venceu a licitação para prestar assessoria de imprensa ao Ministério dos Transportes. Escandalizada com o fato de uma empreiteira abocanhar o contrato, a Associação Brasileira das Agências de
Ao mencionar as razões do pedido de apuração, a Abracom mencionou o fato de a Amanda ter ganho a concorrência, realizada por intermédio de pregão eletrônico, com uma proposta apenas um centavo mais barata que a segunda colocada, a Lyon-Ex Serviços Empresariais Ltda. O lance vencedor cobrou R$ 429.999,98 do Ministério dos Transportes para, durante um ano, fornecer “estudo, concepção, planejamento estratégico e apoio em comunicação social, a serem prestados de forma contínua”, conforme descrição do edital. A Lyon-Ex cobrou R$ 429.999,99 e a terceira colocada, a Canal 27 Comunicações Ltda, disse que faria o serviço por R$ 430 mil.
O contrato oferecido pelo Ministério dos Transportes consiste no atendimento à imprensa e na produção de periódicos corporativos, inclusive audiovisuais. Para tanto, a empresa terceirizada deve pôr 11 profissionais de comunicação à disposição da pasta. O edital classifica em cinco os níveis salariais a serem ofertados jornalista master, sênior, pleno, júnior e repórter fotográfico , informa o piso e o teto admitidos e avisa que o parâmetro deve ser o mercado.
Para se ter uma idéia, de acordo o próprio ministério, o cargo de jornalista master, reservado ao chefe da equipe, deve ser preenchido por um profissional com experiência de chefia em jornal ou revista e pós-graduação em comunicação social. O valor máximo estimado para este salário é de R$ 184,29 por hora. Levando-se em conta que a jornada do jornalista estabelecida pela Consolidação das Leis do Trabalho é de cinco horas diárias, teria-se um contracheque de até R$ 20 mil mensais, ou R$ 243 mil por ano. Isso na teoria.
“Aqui na minha planilha o maior salário que eu vou ter que pagar é de R$ 1.428,80”, admirou-se o empresário Antônio Alves de Souza, dono da Amanda. Ele não é do ramo. Sua empresa, a despeito de ter a palavra “construção” na razão social, é, na verdade, uma terceirizadora de mão-de-obra, capaz de atuar legalmente em 70 atividades diferentes. Detém alguns contratos no Governo do Distrito Federal, sobretudo fornecendo vigias para hospitais e postos de saúde.
Substituição
A “planilha” a que Souza se refere é um documento obrigatório na fase de homologação da licitação. Nela, informa-se ao poder público como a empresa pretende pôr em prática os serviços precificados na concorrência. É onde está o ponto. Ele conseguiu montar um contrato baratíssimo para fornecer o serviço, mas o fez aviltando o custo dos salários no papel. Na vida real, dificilmente encontrará no mercado um profissional com os requisitos exigidos no edital disposto a receber R$ 1,4 mil por mês.
Ao Correio, inclusive, Antônio Alves de Souza admitiu não ter ninguém à disposição. “Não, rapaz, o pessoal que vai trabalhar é o que já está lá. A minha empresa só vai substituir a anterior, incorporá-los, entendeu?” Sobre o lance um centavo mais barato, ele forneceu uma explicação pueril. “Ora, meu pessoal fica lá no computador e dá o lance um centavo mais barato que o anterior. Só isso!”
FONTE: Correio Braziliense