?Jornalista do NYT é vítima de linchamento profissional”

A afirmação é do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, em palestra que abriu nesta sexta-feira, dia 14, a série de Encontros de Comunicação Corporativa, promovida pelas Associação Brasileira das Agências de Comunicação ? Abracom com o patrocínio da PR NewsWire, com o tema "O Futuro da Imprensa".



Para Lins da Silva, o caso ganhou uma repercussão maior do que merecia e a expulsão do repórter é uma punição desmedida. "Além disso, o texto de Larry Rother, se lido no original, com a devida atenção, não contém falhas técnicas, mas sim algumas ilações que poderiam ter sido evitadas", afirmou o palestrante.



Segundo Carlos Eduardo Lins da Silva, o caso suscita uma reflexão sobre o trabalho de comunicação de governos e empresas. "É um exemplo emblemático de como uma decisão pode afetar a imagem de um Presidente da República, revertendo uma onda de simpatia que havia em relação à suposta acusação de que Lula bebe para uma antipatia contra um Presidente que expulsa jornalistas do país", disse o jornalista e livre docente pela USP a uma platéia de cerca de 60 empresários e profissionais do setor de comunicação.



Crise da mídia exige nova postura dos veículos



Na palestra, Lins da Silva abordou a crise da mídia, principalmente dos veículos impressos, no Brasil e no mundo. Segundo ele, a crise tem motivos estruturais, ligados às transformações tecnológicas e à mudança de comportamento do consumidor e conjunturais, relacionados à situação econômica.



Para o jornalista, a mídia brasileira deve buscar soluções empresariais criativas, que permitam a redução dos custos sem queda da qualidade editorial. Os veículos impressos precisam também buscar um novo enfoque, mais analítico. "Eles devem se preocupar menos com detalhes dos fatos e se ater a análises e projeções para o futuro", ressaltou. E para atingir novos leitores o palestrante vaticina: "os jornais devem ser menos chatos, mais atraentes, porque senão o leitor migra para outras mídias".



Para Lins da Silva, uma das questões que torna o mercado brasileiro de mídia ainda mais fraco é o alto nível de dependência que os veículos têm de governos e empresas anunciantes, sobretudo em pequenas e médias cidades, onde o conteúdo editorial acaba seriamente prejudicado pelas necessidades comerciais. Mas ele lembra que esse processo também se dá em grandes cidades. "Há uma barreira cada vez menor entre o comercial e o editorial e a meu ver, a separação entre os dois deve ser preservada, para evitar perda de credibilidade dos veículos, um dos fatores que leva à queda na circulação de jornais e revistas", afirmou.



Papel das Agências de Comunicação ganha mais importância



A crise dos veículos também dá um novo relevo ao papel desempenhado pelas agências de comunicação. Segundo Lins da Silva, as empresas de assessoria e relações públicas fornecem cada vez mais material informativo para as redações. Essa informação deve ter tratamento baseado em princípios éticos, uma individualização maior da notícia, direcionada para cada veículo, segundo sua linguagem e público.



"As agências têm um papel social mais importante no processo de comunicação e devem se preocupar em veicular informações de qualidade para suprir as carências da redações, que nos últimos dois anos tiveram uma redução de mais de 17 mil profissionais em seus quadros," disse. Ele também ressaltou a importância da Abracom como uma entidade que reúne as principais agências do mercado nacional em torno desses princípios de ética empresarial e responsabilidade com a informação.



Palestra abriu série de encontros de comunicação corporativa



O café da manhã desta sexta-feira abriu a série de Encontros de Comunicação Corporativa, uma realização da Abracom, com patrocínio da PR Newswire do Brasil. Para 2004 estão programados mais três encontros, que visam promover a reflexão a respeito dos principais temas da comunicação, reunindo agências, jornalistas e pesquisadores.



O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, primeiro convidado da série, é diretor de relações institucionais da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas (www.patri.com.br). Foi diretor adjunto de redação dos jornais Folha de S.Paulo e Valor Econômico, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade e São Paulo por 12 anos. Na USP tem livre docência e doutorado em comunicação. Morou nos Estados Unidos, onde foi correspondente da Folha em Washington, fez mestrado em comunicação da Michigan State University, onde também foi professor visitante. É autor de diversos livros sobre comunicação, publicados no Brasil e nos EUA.

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