Em sua última coluna ("Pense, amigo: o que é mesmo notícia?"), o velho e bom amigo e profissional Milton Coelho da Graça, com quem nunca tive a oportunidade de trabalhar, mas me lembro que foi chefe do meu irmão Ronaldo na antiga revista "Placar", faz-me um convite para responder à pergunta: "o que é notícia para o governo?".
Caro Milton, caros leitores: acho que não se trata de perguntar o que é notícia para o governo, para a oposição, para as igrejas ou para as entidades de benemerência, mas o que é notícia para o ouvinte, o telespectador, o leitor, quer dizer, o cidadão que paga nosso salário.
Não saberia dizer o que é notícia para o governo, já que, como jornalista, não vejo diferença entre trabalhar na iniciativa privada ou no serviço público. O nosso público-alvo, o objetivo final do nosso trabalho é o mesmo: informar corretamente a sociedade sobre o que está acontecendo.
Como o jornalismo não é uma ciência exata e não há fórmulas mágicas vendidas em manuais de redação, o que move um profissional em qualquer mídia ou função é a sua ética pessoal na busca da verdade. O que quer dizer isso? É simples: basta ser honesto com o que você faz e com os que recebem a informação que você produz.
Nunca gostei de rótulos, essa coisa de jornalismo investigativo, jornalismo público, matéria humana, científica ou mineral, interpretativa ou qualquer coisa do gênero. Isso é coisa para acadêmicos, não para repórteres.
Nos tempos em que ainda tinha tempo para fazer palestras sobre o nosso trabalho em faculdades e sindicatos, sempre dizia que para mim só existem dois tipos de matéria jornalística: a boa e a ruim.
A boa é aquela em que o repórter vai atrás de um determinado fato, lugar ou personagem, pesquisa antes e depois levanta a história toda, ouve o maior número possível de pessoas envolvidas com o assunto, apura tudo – e não só anota declarações no bloquinho, mas também apura com os olhos, os
ouvidos e o coração -, volta para a redação e conta o que descobriu de novidade.
Matéria ruim é quando o repórter parte de uma posição preconcebida ou preconceituosa, já sai da redação com sua tese pronta e vai atrás de algumas aspas, geralmente em off, e futricas em geral, hoje chamadas de "bastidores", para justificar o título que o editor lhe encomendou.
Bom repórter não briga com os fatos, não maltrata a notícia.
É a primeira vez que trabalho em governo, faz um ano e pouco. O que procuro fazer aqui é fornecer informações corretas, bem apuradas, sobre as atividades da Presidência da República, que sejam de interesse público.
Para isso, conto com a ajuda de meia dúzia de jornalistas, que trabalham como em qualquer outra redação, municiando o site da Secretaria de Imprensa e Divulgação (www.info.planalto.gov.br), que está à disposição não só dos jornalistas, mas de qualquer cidadão.
Além disso, procuro esclarecer dúvidas da mais de meia centena de jornalistas credenciados no comitê de imprensa, que fazem o trabalho diário de cobertura das atividades no Palácio do Planalto para
veículos de todo o país.
Embora trabalhemos de lados opostos do balcão, a relação é franca e, na maior parte das vezes, bastante cordial. De vez em quando, o presidente Lula zoa comigo, dizendo que defendo mais a imprensa do que o governo, que sou mais assessor da imprensa do que assessor de imprensa do governo.
Mas, no que realmente interessa, as relações imprensa-governo, pensamos exatamente do mesmo jeito.
No último dia 10, Dia do Jornalista, quando o presidente Lula recebeu no Palácio do Planalto a direção da Fenaj, os presidentes dos sindicatos estaduais e os setoristas credenciados – um encontro, aliás, inédito – em sua fala ele resumiu bem como deve ser o nosso trabalho nesta área.
São palavras do presidente: "Vamos tentar, a partir desta convivência, estreitar, no que for possível, a relação do Estado com os meios de comunicação, com os profissionais de imprensa, para que haja uma relação leal. Quando eu digo leal, quero dizer que em nenhum momento o governo deve
pedir para um jornalista falar bem dele. E, em nenhum momento, um jornalista deve falar mal, simplesmente porque quer falar mal. Ou seja, se nós todos estivermos em busca da verdade e apenas a verdade nos interessar, todos seremos mais amigos, todos viveremos num país mais tranqüilo e todos nós estaremos contribuindo para que a democracia seja definitivamente verdadeira no nosso país".
Claro que nesta minha atual função tenho limites profissionais e éticos, assim como os tive em todas as redações por onde passei nos últimos 40 anos. Ao contrário do que muitos pensam, jornalista não pode tudo; assessor de imprensa, também não.
(*) Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República
FONTE: Comuniquese